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25 junho, 2017

EXCERTO DO CONTO «OS AMIGOS DE MALACHI» PUBLICADO NA ANTOLOGIA «NINGUÉM LEVA A MAL»


Malachi Ferrero já se encontra do lado de fora, visivelmente contrafeito, em frente ao amigo aniversariante e ao cliente cujo único nome conhecido é o de uma marca de whisky. Ambos estão sentados, ligeiramente inclinados e de braços apoiados no balcão, lá ao fundo, junto à entrada para o balcão e para a copa, num espaço que entretanto ficara vago. Conversam, bebem, fumam. Nisto, aparece uma drag-queen, responsável não só pela animação como também pelas mesas, para pousar uma mão-cheia de copos vazios e buscar mais bebidas. Jaime aproxima-se imediatamente dela e implora:
– Manel, dá uma mãozinha ao Nuno enquanto eu vou à casa de banho. Estou aflito, já não aguento. É rápido... vou num pé e volto noutro.
Os lavabos abarrotam, há uma longa fila de gente a aguardar vez para entrar. Jaime dirige-se à casa de banho interna, junto ao gabinete da gerência, para uso exclusivo da casa. Fecha a porta por dentro e marca um número no seu telemóvel. A chamada não é atendida. Impaciente, marca outro número, de rede fixa. Dispara o voice-mail. «Renato, sou eu. Se ouvires esta mensagem, vem a correr para o bar. Há novidades. Não posso falar mais», sussurra para o atendedor. A seguir, envia uma mensagem escrita, para o telemóvel do jornalista, com três breves frases: «Está cá o Passarão e dois Passarinhos. Um deles faz anos. Brindam com Hankey Bannister.»
Regressa e observa-os de soslaio. Procura ficar o mais próximo possível deles, na expectativa de ouvir o que falam, atendendo os clientes dessa zona enquanto Nuno controla a outra parte do balcão. Bannister faz outro tim-tim com os copos aos “bons velhos tempos” e, cinicamente, recrimina-os, num breve murmúrio que Jaime mal consegue captar:
– Tanto tempo lá dentro e vocês nunca me visitaram, seus mal-agradecidos. Nunca me visitaram! Gostam de cuspir no prato onde comem. Ingratos!
Malachi e José Campos entreolham-se e nada dizem.
O tráfego humano neste recinto, vindo da sala onde se situa a pista de dança em direcção aos lavabos e vice-versa, é atordoante. E aparecem cada vez mais pessoas fantasiadas, acabadas de chegar. Valero surge na entrada do balcão, com a máquina fotográfica pendurada ao peito, quando se ouve «La Isla Bonita». Pede a sua mochila, troca a bateria do equipamento e devolve-a. Jaime entrega-lhe uma cerveja. Ele comenta:
– É pá, o Miguel deve estar maluco. Que é que lhe deu para passar Madonna nesta noite?
– Não faço ideia. Olha, Valero, preciso que me faças um favor. – Acerca-se-lhe do ouvido e cicia: – Estás a ver o tipo de preto ali à frente, com o Malachi? Aproxima-te dele e presta atenção a tudo o que ele diz.
– Ó Jaime, desculpa, hoje não dá. Tenho de fazer a reportagem.
– Tens a noite inteira para fotografar e só ainda são duas horas. Por favor, Valero. É importante! Fica aí pelo menos uns dez ou quinze minutos, enquanto bebes a cerveja. O Malachi também não deve demorar, só está a beber um copo e depois volta para o balcão, estamos a precisar dele. Além disso, podes ir fotografando, o pessoal passa todo ali.
– Tudo bem, Jaime. O que é que eu não faço por ti?
– Mas disfarça. Faz de conta que estás ali por acaso, como quem não quer a coisa, a observar o ambiente e a fotografar. Não deixes que eles percebam. Quando terminares a cerveja, se o Malachi ainda lá estiver, vem buscar outra.
– É tudo? Então vou-me retirar.
– Só mais uma coisa: na primeira oportunidade fotografa também o tipo, sem que nenhum dos três dê conta. Põe alguém a fazer pose à frente deles e dispara o flash, mas apanhando sempre o gajo. Faz-me esse favor, Valero. Olha, ele está a chamar-me.
– Ó garçon, traz mais gelo!
Garçon é o raio que te parta – sussurra Jaime entredentes, enquanto enche um balde de gelo. – Que sujeito desaforado!
Aproveita para recolher os copos vazios e limpar o balcão. Pega no jarro de flores artificiais que se encontra junto deles, quase a roçar o braço de Bannister, enfia discretamente uma caneta no meio das flores, passa um pano húmido no balcão e devolve o jarro ao respectivo lugar. Pousa o balde de gelo, um cinzeiro e três copos limpos no balcão e pergunta ao cliente se deseja mais alguma coisa.
– Dois copos de leite para estes marmanjos. Cortesia da casa!
Jaime fita os rapazes, que se aproximam e referem os nomes das bebidas, depois olha para o patrão. Perante o aceno positivo de Malachi, cumpre a sua função e os jovens tornam a desandar.


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Excerto do meu conto «Os Amigos de Malachi»
Publicado na antologia «Ninguém Leva a Mal»
Da Colecção Sui Generis

Livro à venda na livraria online da Euedito
Neste endereço: www.euedito.com/suigeneris

20 junho, 2017

EXCERTO DO CONTO «OS AMIGOS DE MALACHI» PUBLICADO NA ANTOLOGIA «NINGUÉM LEVA A MAL»


– Ora viva o nosso amigo! Bons olhos te vejam, Cinderelo! – estrondeia a voz do quarentão trajado de negro que ressurge ao balcão, agora num tom fanfarrão, mostrando-se bem-disposto. Bem-disposto até demais, vislumbra Jaime, e cínico até dizer chega.
José Campos assusta-se ao ouvi-lo. Atordoado com a presença daquela figura sinistra, enfia a nova bebida goelas abaixo, engasgando-se.
– Cubano, manda aí outro Bannister. A mesma receita – exige o estranho, sem o menor pudor. E vira-se para o psicólogo: – Então, Cinderelo, dizes nada? Os anos não passam por ti, homem. Bem conservado. Belo como sempre.
Quando Malachi pousa no balcão um copo com três pedras de gelo, o homem da caveira segura-lhe o braço, impedindo de o servir.
– Calma, Cubano! Guarda essa garrafa. Abre uma nova. Inteira! E põe aí mais dois copos. Um para ti, outro para o Cinderelo – ordena com muito à-vontade. E fitando novamente José Campos, com um sorriso mordaz: – Por conta da casa!
– Eu não bebo em serviço – balbucia Malachi.
– Comemorar o reencontro! – frisa o cliente, friamente. – Brindar aos bons velhos tempos!
Malachi troca um olhar fugaz com o amigo e, estranhamente, sem contestar esse pedido inusitado, faz-lhe a vontade: abre uma garrafa inteira de Hankey Bannister, sob o olhar sempre atento de Jaime, e serve as três doses. Que descaramento!, pensa Jaime, achando aquele cliente estranhíssimo um verdadeiro abusador e surpreendendo-se com a atitude do patrão, que lhe obedece qualquer ordem sem pestanejar. Forreta como ele é, mão-de-vaca mesmo, e agora um mãos-largas com este tipo, comenta consigo mesmo. Tem o rabo preso, só pode ser...
– Sai daí, Cubano! Vem para o pé de nós.
– Ó Bannister, agora não dá – protesta Malachi, mencionando a casa cheia e o movimento sempre a aumentar. – Não posso largar o balcão. Não vês o movimento?
O cliente, mostrando não aceitar recusas, fuzila-o com um olhar gélido, intimidando-o, e Malachi acede, mais uma vez sem pestanejar, como um cão rafeiro obediente ao dono. Jaime, que desde o início presta, discretamente, especial atenção a todo esse episódio e está deveras curioso por saber quem é o personagem em foco, capta finalmente um nome: Bannister. O patrão chamou-o Bannister. A marca do seu whisky predilecto. Imediatamente lhe vem à mente a gravação que fizera dias atrás e entregara ao jornalista Renato Meirinho, que investiga as mortes recentes de três homossexuais, ocorridas nos dias dos respectivos aniversários em circunstâncias demasiado estranhas, e suspeita que Malachi Ferrero esteja implicado nelas.
– O Passarão – murmura surpreso, em voz alta, lembrando que Malachi brindou ao aniversário de José Campos há menos de meia hora. – O Passarão e dois Passarinhos!
– Que disseste, Jaime? – pergunta o colega de trabalho. – Não entendi.
– Esquece, Nuno, só estava a pensar – responde Jaime, e indicando o cliente de preto que aparenta ter o rei na barriga indaga: – Conheces aquele tipo?
– Nunca o vi mais gordo. Pelo visto é amigo deles.

– Para o Malachi dar-se ao luxo de lhe oferecer uma garrafa de whisky... deve ser mesmo um grande amigo – sussurra Jaime, dando ênfase à expressão “grande amigo”. – Raramente bebe em serviço, não oferece copos a ninguém... e justamente num momento de grande tensão como este, connosco aqui no lodo, abandona o balcão para lhe fazer companhia! Mas tudo bem. Ele é o patrão, ele lá sabe...


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Excerto do meu conto «Os Amigos de Malachi»
Publicado na antologia «Ninguém Leva a Mal»
Da Colecção Sui Generis

Livro à venda na livraria online da Euedito
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14 junho, 2017

EXCERTO DO CONTO «OS AMIGOS DE MALACHI» PUBLICADO NA ANTOLOGIA «NINGUÉM LEVA A MAL»


Mais ambiente, mais música, mais festa. Mais pessoas a chegarem. As fantasias multiplicam-se. Os clientes sempre a pedirem copos. Malachi, agora dentro do balcão, ajuda Jaime e Nuno, o outro barman. Subitamente, dentre a multidão compacta de corpos, surge um vulto masculino com aspecto sinistro, acompanhado por dois belos efebos – novos, esbeltos, corpos musculosos talhados em ginásios e atraentes, transmitindo a sensação de terem sido contratados pelo mais velho. Trata-se de um homem quarentão, totalmente trajado de preto, exibindo um fio metalizado com um crucifixo feito de caveiras no peito. É atendido por Jaime.
– Um Hankey Bannister. Dose dupla. Três pedras de gelo.
Malachi, que está de costas buscando uma bebida na prateleira, estremece ao reconhecer a voz, deixando a garrafa visitar o chão. Jaime percebe o seu súbito nervosismo e, como se não ouvisse o nome da bebida, fita de novo o cliente. Este repete, com as mesmíssimas palavras:
– Um Hankey Bannister. Dose dupla. Três pedras de gelo. – E ostentando uma expressão facial mais séria, audaz, enrugando a testa e esboçando um sorriso maléfico, prossegue num tom imperioso: – Por conta do Cubano. Teu patrão, meu velho amigo!
– Deixa, Jaime – murmura Malachi, encarando o cliente de ar sinistro. – Eu atendo.
– E dois copos de leite para os marmanjos – acrescenta o cliente e após Malachi servir-lhes um whisky, um Red Bull e um Pisang Ambon com laranja, os rapazes esgueiram-se na direcção da pista. – Já não se fabricam homens de barba rija... como antigamente.
– O que te traz por cá? – indaga Malachi.
– Rever os bons velhos amigos. Matar saudades – responde o estranho, nitidamente irónico. – Hum, conseguiste uma bela tasca. Parabéns, Cubano! Confesso que estava ansioso por vir conhecê-la. Esperava um convite. Se Maomé não vai à montanha...
– Por onde tens andado?
– Voltei para Madrid.
O homem vestido de preto exibe uma cigarreira de prata e acende um charuto. Malachi, sempre a observá-lo, sussurra num tom quase inaudível:
– Por favor, nenhuma negociata cá dentro. Peço-te apenas isso.
– Tranquilo, Cubano. Estou limpo.
Enquanto atende outros clientes, Jaime consegue captar o breve diálogo. Deduz que o cliente das caveiras em forma de crucifixo ao peito e charuto na boca é um velho conhecido de Malachi Ferrero, todavia, as palavras que trocam são demasiado parcas, contidas, algo dissimuladas, especialmente pelo patrão.
– Vou dar uma vista de olhos à capoeira.
– Não fumes lá dentro – recomenda Malachi. – A área de fumo é aqui.
– Hum. Está bem, Cubano – rosna o interlocutor, afastando-se do balcão.
– Este tipo ainda me vai arranjar chatices – cicia Malachi para si mesmo ao ver o outro sumir no seio da multidão já bastante compacta, em direcção à pista de dança, sem apagar o charuto.
Momentos depois, José Campos retorna, nitidamente assustado, ao balcão.
– Que noite estranha! Faz lembrar... tu sabes, Lachi – sussurra, mordendo as palavras. – Como se não bastasse a música e a Tailandesa que anda aí a cirandar, pareceu-me ver lá dentro... não tenho certeza, Lachi, vi-o à distância, mas...
– É ele mesmo, em carne e osso – confirma Malachi, prevenindo já o amigo e servindo-lhe outro copo. – Resolveu dar o ar da sua graça. E chegou a matar, com um descaramento que tu nem imaginas.
– Estamos fodidos! – exclama o psicólogo assombrado, como se tivesse visto realmente um fantasma. Mas procura camuflar o medo. – Não, Lachi! Não ponhas água nesse whisky. Dá-mo puro, bem forte – e emborca logo uma grande quantidade da bebida.
– Eu avisei-te que ele andava por Lisboa. Sabíamos que mais dia, menos dia iria aparecer.
– E tinha de ser justamente hoje? Nesta noite, pá!
– Age com naturalidade, Zé. Como antigamente.
Embora eles se esforcem por disfarçar um nítido desconforto, Jaime sente-os tensos. Conclui rapidamente que o nervosismo de Malachi se deve à presença do homem de preto que pediu três bebidas sem as pagar. Pressente que eles escondem algo. Gato escondido com rabo de fora, recorda. O psicólogo ingere os últimos goles de whisky, acende um cigarro e pede outra dose. Whisky puro, desta vez sem gelo.
– Cuidado com a bebida, Zé. Não percas o controlo!


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Excerto do meu conto «Os Amigos de Malachi»
Publicado na antologia «Ninguém Leva a Mal»
Da Colecção Sui Generis

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13 junho, 2017

EXCERTO DO CONTO «OS AMIGOS DE MALACHI» PUBLICADO NA ANTOLOGIA «NINGUÉM LEVA A MAL»


O estabelecimento já tem mais gente. No compartimento seguinte situa-se a pista de dança, ainda vazia, sendo somente ocupada por um rapaz que dança sozinho, ao mesmo tempo que tenta convencer os amigos a juntarem-se a si. Um jovem levanta-se timidamente e acompanha-o. Alguns minutos depois outros dois seguem-lhe o exemplo e mais tarde junta-se-lhes uma drag-queen, o grupo acaba por contagiar outros clientes que começam a dançar animadamente. A música «I want to break free» dos Queen traz mais uns quantos dançarinos para a pista e quando se aproxima a uma hora da manhã já está a bombar. Toda a área do bar já quase rebenta pelas costuras.
No compartimento que antecede a sala da pista de dança, onde se situa o bar principal, há muita agitação. Nada de anormal em noite de festa – festa temática – comemorada anualmente pelo mundo ocidental. O ambiente por todo o bar está a condizer: decoração espectral, de acordo com o Halloween, imagens e máscaras de bruxas, vassouras, abóboras, teias de aranha brancas em fundos negros, nomeadamente cortinados, esqueletos, caveiras, mortos-vivos, múmias e até se vê um caixão na entrada, junto à porta, aberto, mostrando no seu branco interior um boneco do tamanho de um homem supostamente morto. Todo o staff fantasiado de piratas e feiticeiros, todo o mundo descontraído.
Não obstante o espírito fantasmagórico, o ambiente está nitidamente carnavalesco – inclusive no som, cuja música inclui temas brasileiros, ciganos, caribenhos, entre outros; assemelha-se, de facto, mais a um Carnaval fora de época do que à noite das bruxas propriamente dita. Não faltam igualmente as bonecas de porcelana travestidas, bruxas tailandesas, máscaras de Veneza...
Malachi Ferrero, o proprietário e único gerente do Queer, encontra-se do lado de fora do balcão a conversar com o psicólogo José Campos, cliente habitual e seu velho amigo. Nesse momento, eles surpreendem-se ao verem alguém fantasiado de Bruxa Tailandesa – um misto de indumentária tailandesa com uma máscara de Veneza – que vem ao balcão pedir um Safari com Coca-Cola. Arrepiam-se quando ouvem o nome da bebida. A bruxinha Tailandesa afasta-se e Jaime, que está dentro do balcão, ouve-os comentar essa fantasia singular:
– Parece o Lindinho... naquela noite – balbucia José Campos.
– E pediu a sua bebida favorita – observa Malachi. – Safari com cola!
– Que estranho, Lachi! E as músicas que passam... fazem lembrar... aquela festa.
– Não entres em paranóia, Zé.
– Este ambiente não me agrada nada – confessa o psicólogo, mostrando-se desconfortável. Termina a sua bebida e acrescenta: – Acho que vou embora, Lachi. Diz ao Marcelo que fui para casa.
– Nem penses! – interrompe-o Malachi, segurando-lhe um braço. – Vais curtir a noite e não sais daqui sem bebermos outro copo aos teus anos!
O psicólogo aparentemente não dá importância ao seu aniversário.
– Festejamos amanhã. Já combinei tudo com o Marcelo, que faz questão disso.
– Nops. É uma da manhã, portanto, já é 1 de Novembro. Parabéns, meu amigo. Temos de brindar! – Volta-se para o balcão. – Jaime, saem dois whiskies com água lisa.
O rapaz obedece e procura ouvi-los atentamente enquanto atende outros clientes. O aniversário de José Campos despertou-lhe as antenas. Eles brindam, continuam a falar. À medida que bebe, o psicólogo deixa escapar estranhas palavras, mencionando diversas vezes “aquela noite”, e Malachi recomenda-lhe prudência. Marcelo, o namorado do psicólogo, surge junto deles, aceita uma bebida ofertada por Malachi para brindar e arrasta dali o companheiro até à pista de dança, para junto dos seus amigos.


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Excerto do meu conto «Os Amigos de Malachi»
Publicado na antologia «Ninguém Leva a Mal»
Da Colecção Sui Generis

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12 junho, 2017

INTRODUÇÃO DO CONTO «OS AMIGOS DE MALACHI» INCLUÍDO NA ANTOLOGIA «NINGUÉM LEVA A MAL»



O relógio marca meia-noite menos vinte e o ambiente no Queer, cujas portas se abriram às onze, está ainda “morno”. O disc-jockey Miguel Kano, que entrou ao serviço mais cedo do que habitualmente, vai debitando os sons enquanto o bar se vai compondo, à medida que vão chegando pessoas, na sua maioria homens jovens.
No bar principal, o fotógrafo Valero sorve uns goles da sua cerveja e espia os fantasiados que, entretanto, vão surgindo. Após inspeccionar a máquina fotográfica, pousa-a no balcão e pede a Jaime que lhe guarde a pesada mochila na copa enquanto vai dar uma volta pelas outras “capelinhas”. É a noite de Halloween, tem de fazer a sua reportagem fotográfica percorrendo todos os estabelecimentos de diversão nocturna daquele bairro na expectativa de captar as melhores imagens.
– Detesto andar carregado de tralha quando trabalho – justifica-se, arqueando as sobrancelhas – e não dá jeito nenhum pedir constantemente, quer num balcão quer aos porteiros, que me guardem a mochila. E logo nesta noite, que as casas devem estar ao rubro!
– Vai tranquilo, rapaz. Faz um bom trabalho e não te preocupes com a mochila. Aqui fica segura – sussurra Jaime, retirando-a do balcão. – Mas tem cuidado para não seres assaltado! Esconde a máquina dentro do casaco, não andes a exibi-la na rua.
– Vira essa boca para lá! Já bastam as que me roubaram! Mas hoje não há grande perigo, anda imensa gente na rua e os larápios não arriscam.
– Vais fazer uma reportagem e tanto! Hoje tens resmas de manas fantasiadas para fotografar. Alguma edição especial sobre o Halloween?
– O portfólio do costume, como nos outros anos – responde o fotógrafo, com um certo desdém. – Estou a pensar seriamente numa exposição. Há anos que acompanho o Halloween e o meu arquivo acumula milhares de imagens inéditas. Seleccionando as melhores e mais algumas que faça hoje, quiçá.
– Outra cerveja? – sibila o barman, quando ele termina de beber. – Oferta da casa.
– É pá, não posso exagerar. A noite é ainda uma criança e espera-me um longo trabalho pela frente. Mas aceito. – Mal proferira estas palavras e Jaime já lhe substituía a garrafa vazia por outra cheia. – És um amor. Thanks.
– Para quando será essa exposição? E onde?
– Ainda não agendei data nem local, mas isso resolve-se, é fácil.
– As bichas vão ficar malucas ao verem as suas fotos expostas. Oh, se vão! Vaidosas como são...
– Nem te conto, Jaime! Só de lembrar que há meia dúzia de anos todas fugiam da objectiva e dos flashes... agora não me largam a pila. Nem consigo respirar!
– A exposição será baseada apenas em imagens, como as reportagens fotográficas e os portfólios que publicas, ou tens algo mais concreto em mente?
– Estudei a história do Halloween, é deveras curiosa. A maioria das pessoas pensa que é simplesmente mais um evento concebido e exportado pelos americanos, como o Gay Pride. Enganam-se! As origens do Halloween são muito antigas, remontam à Antiguidade. Tem quase três mil anos e uma relação particularmente curiosa com a Igreja Católica.
– Confesso a minha ignorância nessa matéria. Sempre vi o Halloween como um Carnaval gay fora de época, mas com bruxas, abóboras e vassouras.
– É conhecido como a Noite das Bruxas em parte graças à Igreja Católica.
– Como assim? – Jaime mostra-se curioso e Valero descreve a história do evento.
A noite de Halloween festeja-se de 31 de Outubro para 1 de Novembro e foi sempre combatida pela Igreja Católica por ser comemorada na véspera do Dia de Todos os Santos. A sua origem remonta às tradições dos antigos povos celtas que habitaram a Gália e as ilhas da Grã-Bretanha entre os anos 600 a.C. e 800 d.C. e situavam o Ano Novo no dia 1 de Novembro, durante as festividades do Samhain, evento do calendário celta que celebrava o fim do Verão e o início do Ano Novo e, além disso, tinha como objectivo dar culto aos mortos, continuando a ser comemorado paralelamente às práticas cristãs, em particular na Irlanda católica, Escócia, Gales, Cornualha e noutras regiões de cultura céltica das Ilhas Britânicas.
A invasão das Ilhas Britânicas pelos Romanos mesclou a cultura latina com a celta e, em finais do Século II, com a evangelização desses territórios, a religião dos Celtas, chamada druidismo, tinha desaparecido na maioria das comunidades. Pouco se sabe sobre essa religião, mas sabe-se que o Festival do Samhain ocorria entre 30 de Outubro e 2 de Novembro, a meio caminho entre o equinócio de Verão e o solstício de Inverno, e a “festa dos mortos” era uma das suas datas mais importantes, sendo celebrada com rituais presididos pelos sacerdotes druidas que actuavam como médiuns entre as pessoas e os seus antepassados. Dizia-se também que os espíritos dos mortos voltavam nessa data para visitar os seus antigos lares e guiar os seus familiares rumo ao outro mundo.
A relação da comemoração desta data com as bruxas terá iniciado na Idade Média no seguimento das perseguições incitadas por líderes católicos, sendo conduzidos julgamentos pela Inquisição (esta perseguia os praticantes de rituais pagãos como os celtas), com o intuito de condenar quem fosse considerado curandeiro ou pagão. O alvo de tal suspeita era taxado de bruxo, ou bruxa, com elevado sentido negativo e pejorativo, devendo ser julgado pelo Tribunal do Santo Ofício e, na maioria das vezes, queimado na fogueira nos chamados autos-de-fé. Essa designação perpetuou-se e, no Século XIX, esta comemoração de origem pagã foi levada por emigrantes irlandeses (povo de etnia e cultura celta) até aos EUA, onde a tolerância religiosa era maior e a continuidade de festejos pagãos como o Halloween – termo inglês, inicialmente chamado de All Hallow’s Even (noite que antecede o dia de Todos os Santos) e posteriormente reduzido para Halloween – não tinha barreiras culturais ou qualquer constrangimento. E foi aí, em terras norte-americanas, que essa noite passou a ser conhecida como a Noite das Bruxas.
Presentemente, a festa do Halloween pouco tem a ver com as suas origens: só restou uma alusão aos mortos, mas com um carácter distinto. Além disso, foi sendo incorporada uma série de elementos estranhos às festas de Finados e de Todos os Santos. Na celebração actual nota-se a presença de muitos desses elementos: abóboras em forma de caras assustadoras (sem polpa e com velas acesas), bruxas a voarem por cima dos alpendres das casas e crianças vestidas de formas bizarras a andarem de casa em casa, à noite, a pedir doces, frutas ou prendas. As fantasias, enfeites e outros itens usados neste evento estão repletos de bruxas, vampiros, gatos pretos, fantasmas, esqueletos, espíritos, feiticeiros, espantalhos, múmias, mortos-vivos e toda a espécie de monstros horríveis, com decorações de trevas e de medo fora e dentro das casas, que às vezes chegam a ter conotações verdadeiramente satânicas.
– Nos dias de hoje o Halloween é universal, comemora-se em todo o mundo – prossegue Valero, finalizando a narrativa. – Na noite gay de Lisboa é considerado um segundo Carnaval e começou a festejado em 1992, no mais antigo bar gay da Rua de São Marçal, no Príncipe Real. Há tempos, um dos seus proprietários afirmou mesmo numa entrevista ao jornal Púbico: «O nosso foi o primeiro bar gay a fazer o Halloween, em 1992. Se alguém o fazia antes, não se falava. Nos anos seguintes surgiram mais bares a festejá-lo porque é divertido, é mais uma noite temática, é um Carnaval adicional ao que já existe. A ideia pegou e agora todas as casas o fazem». – Vendo os ponteiros do relógio a marcarem meia-noite e dez, termina a cerveja de um gole e despede-se. – Bem rapaz, está na hora, tenho de me pirar. Volto lá pelas duas, duas e meia. Até já!

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Excerto/Introdução do meu conto «Os Amigos de Malachi»
Incluído na antologia carnavalesca «Ninguém Leva a Mal»
Da Colecção Sui Generis

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Neste endereço: www.euedito.com/suigeneris


09 junho, 2017

EXCERTO DO CONTO «O SEGREDO DE LEONARDO» INCLUÍDO NA ANTOLOGIA «SALOIOS & CAIPIRAS»



Henrique e Leonardo colocam os cavacos no canto reservado à lenha, próximo da lareira. Põem alguns troncos entre os potes de ferro, fazendo ressurgir as chamas do borralho. Dona Isabel prossegue as suas tarefas, sem referir o que Manuela lhe dissera. Enche os potes de batatas, nabos, centeio, restos de frutas e verduras, preparando assim a alimentação das vacas e dos porcos. Os rapazes continuam na expectativa se a irmã percebeu, ou não, o que eles falavam no quinteiro, porém, abafam as palavras. Dona Isabel repara que cochicham um com o outro, embora de nada suspeite. Pouco depois, eles vão lá para fora. Sentam-se no patim. Quando a mãe se aproxima da porta para pegar num balde de água, ouve murmúrios sobre Irene. Quer saber o que se passa. Os filhos tentam disfarçar, todavia, ela já escutara o suficiente para ficar com a pulga atrás da orelha.
– Que estais a dizer, Inrique?
– Nada, minha mãe.
– O que é que tem a Irene?
– Num tem nada, minha mãe.
– Num’inganes, Inrique!
– O Rique só disse que era melhor casar com a Irene antes de ir para a tropa.
– Mau, mau, Lionardo! Vós estais malucos ou quê?
– Ó Rique, é melhor contar já à mãe que queres casar.
– Isso é verdade, Inrique?
– Você gosta da Irene, num gosta?
– Ó meu filho, a Irene é uma bela cachopa, filha de boa gente. Mas como é que tu vais casar se num tens eira nem beira? Nós somos pobres, mal temos para comer, e ainda queres trazer outra boca para dentro de casa? Deixa-te mas é de tolices. Quando vieres do Ultramar, arrumamos a tua vida e casas-te com ela.
Leonardo adverte o irmão: já que falaram em casamento, devem prosseguir. Incentiva-o a abrir-se com a mãe. Não vale a pena tentar tapar o Sol com a peneira pois, mais cedo ou mais tarde, ela mesma tomará conhecimento da realidade. Dona Isabel, ao ouvi-lo, recorda as palavras um tanto desordenadas da filha e desconfia logo de que Henrique portou-se mal com a namorada. Interroga-o:
– Que é que tu andaste a fazer?
– Eu? Na... nada, minha mãe.
– Então, por que raio queres casar antes de fazeres a tropa?
– Porque... porque...
– Porque é preciso, mãe – intervém Leonardo, sem hesitar. – O Rique e a Irene têm de casar o mais cedo possível, percebe?
Dona Isabel arregala os olhos, leva as mãos à cabeça e exclama:
– Ai, Jesus-Maria-José! Tu desonraste a rapariguinha, Inrique? Fala, molengão!
– Aconteceu, minha mãe.
– Ai, meu Deus! Ai, meu Deus!
– Por isso é que me quero casar.
– Ó ordinário, é esse o exemplo que dás à tua irmã?
– Sossegue, minha mãe – suplica Henrique. – Nós vamos ajeitar tudo.
– Fale baixo, mãe – implora o filho mais novo. – Olhe que os vizinhos podem ouvir-nos!
– O que está feito, está feito – prossegue Henrique. – Agora, tenho de remediar a coisa, antes que seja tarde.
– O Rique tem de se entender rápido com o tio Ramiro para marcar o casamento – acrescenta Leonardo.
– E como é que ides tapar a boca do povo? – exaspera-se Dona Isabel. – Os Pereiras num vão gostar nada desta brincadeira!
– Mãe, já disse ao Rique que hoje vou falar com o Mérico. Ele também num vai gostar, mas eu hei-de amansá-lo e ele vai ajudar-nos a controlar o tio Ramiro.
– Ai se o teu pai fosse vivo, Inrique! Dava-te uma coça tão grande que nunca mais te endireitavas! Isso lá é coisa que se faça a uma rapariguinha de respeito?


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Excerto do meu conto «O Segredo de Leonardo»
Incluído na antologia luso-brasileira «Saloios & Caipiras»
Da Colecção Sui Generis

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08 junho, 2017

EXCERTO DO CONTO «O SEGREDO DE LEONARDO» INCLUÍDO NA ANTOLOGIA «SALOIOS & CAIPIRAS»




Ao ouvir as palavras do irmão sobre a reacção de Américo, quando o senhor Jacinto lhe insinuara a possibilidade de um dia a sua irmã mais nova se sujeitar ao mesmo perigo que a filha do ferreiro sofreu, Henrique fica mais assustado do que já estava. Não que ele tenha medo do irmão da namorada, mas teme o senhor Ramiro Pereira, seu futuro sogro.
– Que vou eu fazer à minha vida, Leonardo?
– Fizeste munto mal em deitar-te com a Irene. Agora, tens de casar depressa com ela, antes que a barriga apareça. Senão... se o pai dela sabe nem te deixa casar. Mata-te logo! A coitada da Irene ainda fica viúva antes do tempo, e c’um filho na barriga. Queres isso?
– Tu sabes que eu sempre quis, desde miúdo, casar com a Irene. Mas assim, às pressas? Sem nenhum dinheiro comigo? Todo o povo vai desconfiar!
– Num tens outro remédio. Rique, faz das tripas coração, mas casa-te rápido. Fala com o tio Ramiro antes que ele descubra.
– Ó Leonardo, tu estás doido ou quê? Daqui a nada vou para a tropa e só volto daqui a dois ou três anos. Como queres que lhe fale em casório?
– Tens alguma ideia melhor? Se num falas com o tio Ramiro, pretendes fazer o quê? Partir para o Ultramar e deixar a Irene desonrada?
– Claro que não!
– Então, num tens escolha.
– Oh, sorte malvada! Para que é que fui dormir com a Irene? Está certo que me soube bem, mas ela tinha de ficar de barriga assim tão cedo, antes de ter a minha vida arranjada? Puta de sina! Como se não bastasse sermos pobres, ela ainda tem o raio de uma família brava como as cobras.
– Preocupa-te só com o tio Ramiro, que eu trato do Mérico. Mais logo, nós vamos ao baile de Chã das Naves e falo-lhe de vós.
– Vê lá o que vais fazer, ó Leonardo!
– É melhor contar-lhe no meio do baile, como quem num quer a coisa. Assim, ele num fica tão bravo. Se ficar, num há-de querer descarregar a raiva no meio de todo o mundo. O Mérico num vai querer que o povo saiba que a irmã dele está de esperanças, pois não?
– Ó Leonardo, num me compliques mais a vida, por favor!
– Só quero ajudar. Rique, tu és meu mano e eu vou-te valer, quer tu queiras quer não. Se conseguir controlar a raiva do Mérico, podes crer que já faço munto. Mas fala ao tio Ramiro! Diz-lhe que tu e a Irene querem deixar a vossa vida acertada, antes de ires embora. Dois ou três anos em África é munto tempo. Diz-lhe que tens medo de que a Irene num espere por ti... sempre lhe pode aparecer outro rapaz e ela casar com ele, num é? Diz-lhe mesmo que tens medo de que lhe possa acontecer alguma desgraça, como fizeram à Donzília do ferreiro. O povo, hoje, num fala doutra coisa. Pega nessa desculpa e conversa com o pai da Irene!
– Num sei, Leonardo. É complicado dizer-lhe que emprenhei a filha dele.
– Num digas isso! No ano que vem, o Mérico parte também para o Ultramar. A Irene vai ficar sozinha, sem o irmão a defendê-la da rapaziada. E ela é tão bonita! Contigo e o Mérico em África, num hão-de faltar cães à sua volta. Mesmo que ela te queira guardar respeito, pode haver algum malvado que abuse dela. Nunca se sabe, não é? Pois então faz o que eu te digo, Rique! O tio Ramiro há-de entender que, se tu fores solteiro para África, tens medo de que algum mal suceda à Irene.
– Mas ele vai desconfiar desta pressa toda! E aí, o caldo entorna-se.
– Quando descobrir, já tens o casamento marcado. A raiva num será tanta porque já estás a compor a coisa. Verás que o tio Ramiro num há-de deixar ninguém saber que a filha vai casar de bucho cheio. E na altura em que o povo perceber, se alguém perceber, vós já estareis casados.
– Olha, acho melhor eu e a Irene falarmos com o senhor padre. É isso, Leonardo! Peço ao senhor padre que nos case em segredo. Fujo com ela e voltamos, já casados, daqui a uns dias.
– Nem penses numa asneira dessas!
– E porque não? Só quero arranjar uma saída.
– Rique, pela alma do nosso pai, tem calma! Tudo há-de ajeitar-se.
– Ajeitar como, Leonardo?
Subitamente, Leonardo cala-se. Henrique dirige o olhar para a porta da loja e depara com a irmã. A miúda olha de um para o outro, como que incrédula, embasbacada.
– Que foi, Manuela? – pergunta Henrique, ignorando por completo as palavras que acabara de proferir. – Que estás aí a fazer?
– A mãe pediu... – balbucia a menina, mas mal consegue falar.
– Diz, Nelinha – incentiva-a Leonardo. – O que é que a mãe pediu?
– Cavacos. A fogueira está quase a apagar-se. Num há lenha em casa.
– Já os levamos – afirma Henrique. – A mãe quer mais alguma coisa?
– Não, Rique. O que é que tu... disseste ao Leonardo?
– Nada de especial, Nelinha – responde Leonardo, antecipando-se ao irmão. – O Rique só estava a brincar. Agora volta para casa, volta. Diz à mãe que nós já vamos.
Manuela dá meia volta, vai à horta colher folhas de couve e segue pelo carreiro. Os irmãos observam-na até a perderem de vista. Questionam-se sobre o que ela teria escutado, e se terá entendido o que eles diziam. Pelo sim pelo não, decidem concluir rapidamente as tarefas com as vacas e retornar logo a casa, com os braços carregados de cavacos.

Manuela, ao entrar na cozinha, revela à mãe o que ouvira. Todavia, as suas palavras são tão imprecisas que Dona Isabel não acredita nela. Na verdade, com o falatório que corre em Tarapata sobre o infortúnio de Donzília, a filha do ferreiro de Corga da Raposa “emprenhada pelo namorado” e posteriormente “abusada por um bando de camaradas dele” no Monte da Raposa, Dona Isabel julga que a filha se refere a essa rapariga e citou, por lapso, o nome de Irene. Talvez porque Irene seja a namorada do irmão. Talvez porque o ouvisse a falar também sobre Irene. Ainda assim, repreende-a por “escutar mal aquilo que os outros dizem” e manda-a calar. Manuela fica amuada e refugia-se no seu quarto, para não levar mais raspanetes.


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Excerto do meu conto «O Segredo de Leonardo»
Incluído na antologia luso-brasileira «Saloios & Caipiras»
Da Colecção Sui Generis

Livro à venda na livraria online da Euedito
Neste endereço: www.euedito.com/suigeneris