30 março, 2019

DEVASSOS NO PARAÍSO – PREFÁCIO




PREFÁCIO


Sensualidade e erotismo são dois temas que se acham presentes nas artes desde tempos remotos, tendo para a maioria das pessoas significados similares já que se esbarram constantemente como sinónimos por serem ambos associados à volúpia (prazer sexual, luxúria, deleite) ou à lubricidade (lascívia, sensualidade, libidinagem). No entanto, existem diferenças entre eles.
A sensualidade é uma qualidade humana relacionada com os sentidos. Através da visão, da audição, do olfacto, do tacto e do paladar podemos perceber a realidade ao nosso redor – embora a visão tenha um papel fundamental, os outros sentidos também são activados com intensidade. Considera-se que algo é sensual quando desperta o interesse de alguém de maneira especial e intensa, e abundam os elementos que tornam algo sensual: alguns movimentos, certas formas, uma atmosfera envolvente, uma música de fundo, um perfume, etc. Além disso, conota-se frequentemente o sensual ao erotismo e à sexualidade pois imensos estímulos provocam desejo, atracção. Porém, o sensual opõe-se ao usual e ao vulgar; o prazer que se sente é subtil, difícil de descrever e muito subjectivo.
O erotismo, por sua vez, é uma manifestação da sexualidade cujas características variam segundo a sociedade que se tome como modelo. Apesar de definido num primeiro instante como “paixão de amor”, é necessário salientar o seu carácter revalorizador das formas próprias da sexualidade, tanto na vida pessoal e social como nas manifestações culturais. Sendo mais objectivos: o erotismo é o estímulo sexual sem apresentar o sexo de forma explícita; embora possa significar também uma representação explícita da sexualidade, podendo ser relacionado com o amor lascivo, designa, de um modo geral, não só um estado de excitação sexual mas também a exaltação do sexo no âmbito das artes (literatura, pintura, escultura, dança, etc). E é através desse apelo artístico que o conteúdo erótico se diferencia, nalguma medida, da pornografia.
Há traços singulares entre o erotismo e a pornografia que nos possibilitam estabelecer uma diferenciação aceitável. Uma das diferenças mais comuns diz respeito ao teor nobre do erotismo (que possui componentes abertamente sensuais, e do ponto de vista cultural é valorizado na sua dimensão estética) em oposição ao carácter vulgar da pornografia. O que lhe confere esse grau de nobreza é o facto de o erotismo não se vincular directamente ao sexo, enquanto a pornografia, na qual tende a haver uma maior preocupação sexual do que estética, encontra no sexo explícito o seu espaço privilegiado. Dessa forma, o erotismo, que tem sido fonte de inspiração constante na literatura e nas artes, estará mais próximo do sexo implícito (portanto, aceitável) e a pornografia do sexo obsceno, directo, explícito e comercializável, sem nenhuma magia.
A reflexão sobre o erotismo nasce com a civilização. Já em Platão está presente um dos aspectos mais fecundos da reflexão erótica: a função libertadora de Eros, problema que foi retomado pela psicanálise ao descrever o seu aspecto libertador para o indivíduo e para a sociedade, bem como para ressaltar o seu carácter de confronto com o sistema.
As primeiras representações artísticas de clara intenção erótica foram realizadas pelos Gregos e Romanos. Surgem na ornamentação de vasos de cerâmica, em pinturas murais, como nos frescos da Villa dos Mistérios em Pompeia, e nas esculturas inspiradas em cenas mitológicas de jogo amoroso. Nas paredes de Pompeia existem inúmeras pinturas eróticas – um exemplo notável é o do bordel com desenhos dos vários serviços sexuais oferecidos, em cima de cada porta. Encontram-se também figuras fálicas nas calçadas desta antiga cidade do Império Romano (destruída durante uma grande erupção do vulcão Vesúvio no ano 79), que mostram a direcção para o prostíbulo e casas de entretenimento.
Na Idade Média, estas representações inscreveram-se com frequência na estrutura geral dos edifícios civis e religiosos, esculpidas em mísulas, capitéis e gárgulas. Em paralelo, entre os séculos X e XIII, a arte hindu desenvolveu uma forma de ornamentação escultórica de carácter religioso centrado no tema do maithuna, ou casal de deuses realizando o acto sexual em diversas posições, símbolo da união da alma com a divindade. A introdução dessa perspectiva na pintura e na escultura facilitou, a partir da Renascença, o diálogo erótico entre o espectador e a obra, mas só no século XX o erotismo adquire uma autêntica definição como tema independente, através das obras de Aubrey Beardsley, Gustav Klimt, Henri Matisse e Pablo Picasso, entre outros.
No campo da literatura, ao analisar as diversas obras que têm como tema central ou se inspiram no erotismo é preciso distinguir as de ficção poética ou narrativa e as que possuem um sentido gnómico ou didáctico. A esta última categoria pertence o Kama Sutra, por exemplo. Por sua vez, o Cântico dos Cânticos (ou Cantares de Salomão), livro da Bíblia, está repleto de uma profunda dimensão erótica, dando voz a «dois amantes que se elogiam e se desejam com convites para o prazer mútuo».
A poesia erótica encontrou no mundo romano uma nova amplitude ao incorporar elementos da linguagem coloquial que facilitaram a expressão da sensualidade. Durante a Idade Média, esse género evoluiu para uma liberdade cada vez maior, sobretudo na poesia dos goliardos (clérigos pobres, desamparados pela Igreja Católica, de espírito transgressivo e provocador), ao mesmo tempo que surgia, quase contemporaneamente, a poesia do amor cortês, em que a inspiração erótica acontece de uma forma altamente sublimada e codificada segundo certas regras, fiel reflexo da sociedade feudal e cavalheiresca na qual se desenvolve. No Renascimento e no Barroco a poesia erótica atinge o seu último momento de esplendor, pois nos séculos seguintes perderia a sua especificidade como género distinto da poesia amorosa.
Já nos séculos XIX e XX o género erótico é cultivado por um extraordinário número de escritores que mostra uma vitalidade que outros tipos de narrativa não têm tido. Nestes últimos séculos, alguns dos autores mais famosos desse género foram Alfred de Musset, George Sand, Oscar Wilde, Henry Miller, Anaïs Nin, Georges Bataille, entre outros.
Pessoalmente, escrevi o primeiro texto erótico, sob a forma de conto, no ano 2001, para o publicar na revista Korpus – tendo-se seguido largas dezenas de contos eróticos para outras publicações, jornais e revistas, nas quais publiquei regularmente até ao ano 2012. Desde então, o erotismo jamais abandonaria a minha escrita... quer sendo abordado explicitamente ou com bastante subtileza, todavia, caminhando sempre de braço dado com a sensualidade – quando não se vislumbra erotismo nalguma das minhas narrativas, a sensualidade impõe a sua presença, mesmo no drama mais profundo ou num texto de carácter policial. De facto, tanto o erótico quanto o sensual, dependendo do contexto em que sejam tratados, são temas que, na escrita literária, me fascinam de um modo quase insano. Por essa mesma razão, mas não só, seria inevitável, depois de ter explorado diversas temáticas de diferentes naturezas noutros projectos literários, organizar uma obra colectiva com a presença dominante destes dois ingredientes, o sensual e o erótico, ou com a junção de ambos, mesclando-os, a sensualidade erótica, nas suas narrativas, independentemente das abordagens que cada autor lhes confere – ora explícitas, ora subtis ou mesmo latentes, consoante as sensibilidades de quem escreve. Resultou numa antologia de Contos Sensuais e Eróticos que reúne contos e/ou pequenas estórias de trinta autores lusófonos, cujo título, Devassos no Paraíso, reflecte magistralmente os conteúdos da obra. Uma nova antologia na Colecção Sui Generis plena de sensualidade e erotismo, que irá proporcionar, seguramente, prazenteiras leituras. Pois então... boas leituras!

Isidro Sousa




DEVASSOS NO PARAÍSO
Contos Sensuais e Eróticos
Autores: Vários Autores
Organização: Isidro Sousa
Colecção Sui Generis
Editora Euedito

ISBN: 978-989-8896-03-2
Depósito Legal: 434951/17


Encomendas do livro à Sui Generis através do email abaixo indicado. Pode ser adquirido directamente na Livraria Euedito, Amazon, El Corte Inglés, Livros.cc e noutras plataformas de distribuição digital.

EDIÇÕES SUI GENERIS
letras.suigeneris@gmail.com
https://letras-suigeneris.blogspot.com
https://issuu.com/sui.generis



25 março, 2019

SOL DE INVERNO - 64 AUTORES SELECCIONADOS




SOL DE INVERNO
Antologia Lusófona
Organização Isidro Sousa
Colecção Sui Generis



Foram seleccionados textos de 63 Autores Lusófonos para o projecto «Sol de Inverno», uma antologia em prosa e poesia – Contos, Crónicas, Cartas & Poesias – integrada na Colecção Sui Generis, que será brevemente publicada com a chancela Euedito. Além de assumir as funções de Organizador e Coordenador, Isidro Sousa contribui também com um texto assinado por si – o que perfaz um total de 64 Autores (contemporâneos) desta obra colectiva: 28 de Portugal, 33 do Brasil e 3 de Angola.

Além dos textos seleccionados, enviados pelos Autores participantes, serão incluídos nas páginas desta antologia (mais alguns) textos de Autores consagrados (clássicos), grandes vultos da Literatura, cujos nomes serão revelados aquando da edição do livro. 

Todos os Autores estão de parabéns! Agradecemos as vossas participações e o voto de confiança que depositaram em mais uma Antologia Sui Generis.



Eis a lista dos Autores seleccionados:


Amélia M. Henriques
Anderson F. D. Souza
André Galvão
António Fadigas
Armindo Gonçalves
Beatrice Medrado
Camila Oleski
Carol Assmann
Carolina Sampaio
Catarina Pedrosa
Cecília de Lara
César Luís Theis
Chris Lisboa
Cleidirene Rosa Machado
Cristina Sequeira
Daniel Vicente
David Sousa
Diego Domingos
Dorivaldo Ferreira de Oliveira
Edvaldo Rosa
Fátima d’Oliveira
Filomena Fadigas
Fortunata Fialho
Giovanna Tursi Catapani
Guadalupe Navarro
Ida Mara Freire
Isidro Sousa
Janice Reis Morais
Janiel Martins
Jorge Gaspar
José de Castro
José Duarte Beatriz
José Manuel Morais
Josiclénio Sebastião
Josué Ananias Sudi
Kaay Vic
Karenn Sanches
Lucinda Maria
Luís Rôxo
Lurdes Bernardo
Manuel Amaro Mendonça
Maria Angélica Rocha Fenandes
Maria Eloina Ávila
Maria Manuela Vaz de Carvalho
Marizeth Maria Pereira
Marta Maria Niemeyer
Mary Rosas
Marysnelly Flor
Miriam Carmignan
Nancy Scarlett-Hayalla
Natália Luna
Olímpia Gravouil
Pedro Coppola
RAADomingos
Renan Nonato
Ricardo Solano
Ronaldo Magalhães
Rosa Carvalho
Rosa Marques
Rosa Vital
Rozemar Messias
Sandra de Castro
Sara Timóteo
Vitorino de Sousa


Agradecemos que os Autores mencionados verifiquem se os respectivos nomes (ou pseudónimos) estão correctos. São estes os nomes que assinam os textos e os mesmos serão incluídos na contracapa do livro. Caso haja alguma incorrecção, comuniquem-nos com brevidade – por email – para que possamos proceder às rectificações necessárias.


NOTAS:

1)    De acordo com a informação transmitida por email, esta selecção, por enquanto provisória, está sujeita a confirmação. A selecção final (definitiva) será divulgada oportunamente, após ter-se dado cumprimento aos Pontos 7 e 8 do Regulamento subscrito.
2)    Todos os Autores mencionados nesta lista já foram notificados por email.
3)    Informações (ou comunicações) sobre o andamento desta antologia são/serão transmitidas EXCLUSIVAMENTE POR EMAIL. È necessário que tenham atenção à caixa do correio.


EDIÇÕES SUI GENERIS
> Página: https://issuu.com/sui.generis
> Livraria: https://www.euedito.com/suigeneris
> Blogue: http://letras-suigeneris.blogspot.com/
> E-mail: https://issuu.com/sg.mag

SG MAG | REVISTA LITERÁRIA
> Página: https://issuu.com/sg.mag
> E-mail: sg.magazin@gmail.com