PREFÁCIO
É com bastante
satisfação que assumo, novamente, o papel de editor e torno a prefaciar um
livro de Rosa Marques: a sua segunda obra poética, que reflecte fortes
preocupações de âmbito social. Se Mar em
Mim, o primeiro livro, apresenta temas que lhe são caros e a tocam
particularmente a nível pessoal, sendo a maioria dos poemas dedicada à
Natureza, às ilhas do seu coração (Madeira e Porto Santo) e ao mar com o qual
sempre conviveu, este novo Prisioneiros
do Progresso debruça-se sobre questões assaz alarmantes que vão muito além
do foro pessoal: afectam todos os seres! Porque Rosa Marques, sendo uma pessoa
humana e sensível, é igualmente uma autora atenta, consciente e desassossegada.
Preocupa-se com os seus sonhos, com a sua própria vida e a vida dos seus, mas
também se inquieta com as vidas e as condutas de outrem... com a sociedade
egoísta e materialista em que vive e o mundo cada vez mais mecânico e desumano
que a rodeia.
O contacto entre
nós estabelecido em 2015 ultrapassou, desde cedo, a mera relação editorial: foi
adentrando, de modo crescente, no campo da amizade, gerando-se, de dia para
dia, um apreço salutar entre autora e editor construído com pequenas/grandes cumplicidades.
Não senti, talvez por isso mesmo, qualquer estranheza quando ela manifestou,
alguns meses após ter publicado Mar em
Mim, a intenção de editar outro livro de poesia. Não obstante, a temática
dos poemas que constituiriam o novo livro deixou-me, numa fase inicial, um
tanto apreensivo...
Neste pequeno
universo literário em que grande parte das obras poéticas apresentam conteúdos
que obedecem (quase) sempre a desejos e anseios de ordem pessoal, editar um
livro de poesia totalmente dedicado a assuntos sociais, tecnológicos,
ambientais e humanitários pareceu-me uma ideia arrojada, e até arriscada. Não
que estes temas não sejam merecedores de atenções reflectidas, também, a nível
poético. Pelo contrário: é de louvar! Mas surgiu-me logo uma questão deveras
pertinente: quem desejaria adquirir um livro cujos poemas se preocupam, em
exclusivo, com as tecnologias que isolam cada vez mais o ser humano e o fazem
olhar somente para o próprio umbigo, com as sociedades crescentemente
globalizadas, impiedosas e desumanas, resultantes de um progresso acelerado e
descontrolado, com toda a humanidade que habita o planeta Terra em perigo? Isto
porque, na minha visão de editor, embora privilegie sempre a qualidade das
obras literárias, há outros investimentos imprescindíveis à produção de um
livro que carecem de retorno, investimentos financeiros, e esse retorno nem
sempre poderá ser breve, ou tão breve como se desejaria.
Mas Rosa Marques,
expondo-me a sua inquietude e a razão dos temas abordados, logo me
tranquilizou. A qualidade dos poemas, aliada à sensibilidade e à simplicidade
que a caracterizam, também. São largas dezenas de textos escritos em momentos
diferentes, que registam sentimentos de angústia e aflições em diversos
períodos da vida da autora, revelando mágoas, descontentamentos e revoltas, não
havendo, inicialmente, o objectivo concreto de serem reunidos num livro; em
certa altura, porém, a autora constatou que esses mesmos textos poéticos seriam
suficientes para formarem um volume. E à medida que chegavam às minhas mãos,
para que a obra fosse organizada, convencia-me, cada vez mais, de que este novo
livro seria, além de interessante, um excelente desafio/alerta pela via da
poesia... e muito oportuno nos tempos que correm! Tal como atestam os versos
introdutórios de Prisioneiros do
Progresso, o (primeiro) poema que empresta o seu título ao livro: Deslumbrado com o grau de desenvolvimento
que já conseguiu atingir / O homem não “sabe”, não quer mais parar... /
Egocêntrico, cada vez mais sedento de explorar... de modificar... / Numa sede crescente
de progredir... mesmo consciente de que está a destruir...
De acordo com o
pensamento da autora e as palavras que me transmitiu, o homem tem causado danos
irreversíveis no nosso planeta, que colocam em risco toda a humanidade. Esvaziando-o das substâncias que o tornam
equilibrado e habitável, sobrecarregando-o de produtos altamente poluentes e
que estão a destruir a atmosfera... dando origem ao aquecimento global, ao
efeito estufa, etc. Mesmo consciente de que age mal, ele dá (continua a
dar) largas à insensatez. Além de promover um progresso descontrolado que
poderá ter consequências nefastas para todos os seres vivos que habitam a
Terra, mantém-se indiferente aos danos que desencadeia, ao esgotar,
egoisticamente, os recursos naturais do planeta sem pensar nas gerações
vindouras. Tudo isso numa ânsia de saciar desejos sem limites, com sede incontrolável
de desenvolver, de evoluir sempre e cada vez mais, sem olhar a meios para
atingir os fins, e insensível para o inevitável desfecho que poderá ser
catastrófico. A situação é alarmante!,
frisa a autora. Destruindo o seu próprio habitat, o ser humano caminha a largos passos para
o abismo da destruição, da anulação de si mesmo.
No entanto, o homem
do século XXI, apesar de todo o desenvolvimento que alcançou, não é feliz.
Tornou-se um ser insensível, sem lei, materialista e tecnológico, fruto desse
progresso descontrolado que anula os bons valores éticos e morais que regem a vida,
descurando a parte espiritual, a mais importante para uma vida feliz e
saudável... daí todo o desequilíbrio. Existe
uma insatisfação crescente, que ele procura colmatar com mais desenvolvimento...
conquistando mais bens materiais. Esta
sede desmesurada de poder e de conquista está originando uma cegueira geral
para a verdadeira realidade, para o estado em que o mundo se encontra, para a
necessidade de se valorizar a vida humana... e menos a parte material. Criando
seres insensíveis e indiferentes...
A solidão entre os
seres, a falta de afecto, a ausência de valores, as desigualdades sociais, o
desprezo pela vida humana, a ambição desmedida, a desordem nas sociedades, as
guerras e a pobreza, as alterações climáticas provocadas pela mão humana,
enfim, o caos no mundo e a (consequente) desumanização que se tem verificado e
acentuado a cada dia são algumas das imensas inquietações bem vincadas nos 67
poemas incluídos neste livro, que remetem, constantemente, para a necessidade
de moderar e controlar o desenvolvimento a nível mundial, educando,
sensibilizando e consciencializando os seres humanos para uma maior
responsabilidade, o que permitirá reduzir os malefícios que a todos afectam.
Sem mais delongas,
deixo-lhes nas mãos este Prisioneiros do
Progresso, uma belíssima obra poética que, para além do prazer que a sua
leitura irá seguramente proporcionar, poderá despertar consciências para certas
realidades que nos rodeiam, cumprindo também, desse modo, uma função
pedagógica.
Isidro Sousa
Título: PRISIONEIROS DO
PROGRESSO
Autora: Rosa Marques
Prefácio: Isidro Sousa
Colecção Sui Generis
Editora Euedito
Editores:
Isidro Sousa (Sui Generis)
Paulo Lobo (Euedito)
ISBN: 978-989-8896-02-5
Depósito Legal: 434950/17
Páginas: 120 páginas
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