Sentado na rocha, agasalhado por uma calma
turbulência
nestas horas tardias escorrendo tão prenhes da tua ausência
relembro o derradeiro mergulho nas águas límpidas
da lagoa
quando me tornaste a amar antes de abalares para
Lisboa
Habitavas-me e percorrias-me à beira deste mar cristalino
buscando (febrilmente) os mistérios do meu corpo
franzino
e os teus belos cabelos (desgrenhados) pelo vento zurzidos
chicoteavam o silêncio em redor da lagoa povoada de
gemidos
Acariciando-nos, o Sol ardia (num fundo azuláceo) inclemente
as águas cúmplices e revoltas lambendo os pés languidamente
– a inquietude vislumbrando as areias rasgadas pelo
caranguejo
enquanto me apertavas e abraçavas (raivosamente)
com desejo
Antes de me deslumbrar com a força portentosa do
teu abraço
e depois de mergulhar o rosto nesse tórax vigoroso
feito de aço
o teu cheiro convocou o cio... esta sede que só tu
sabias saciar
quando (poderoso) me esmagavas, apressando no peito
o arfar
Libertando sussurros perdidos no areal vagando sem
dimensão
buscavas a certeza de que permanecia contigo no
mesmo chão
Venceste-me (louco de prazer) na orla penumbrosa de
outrora
e abraçando-me (vestido de seiva) fizeste tenção de
ir embora
Estava transfigurado, convertido em líquido, todavia
fascinado
– êxtase sublime de quem se sente amado, plenamente
saciado
Mas atirando-nos novamente nas águas translúcidas
da lagoa
amaste-me outra vez (loucamente) antes de retornares
a Lisboa
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in «A Lagoa de Óbidos, o Mar e Eu», página 202
MP Edições, Outubro 2015
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