Fotografia: Dado Goes |
ENTREVISTA COM ISIDRO SOUSA
Publicada na revista Conexão Literatura
Edição nº 18 | Dezembro 2016
Páginas 47-53
Isidro Sousa nasceu em 1973, numa aldeia
remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, Portugal, e reside em
Lisboa. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou,
dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira
antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com diversas editoras, participou em
duas dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o
responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Completou,
em Agosto, um ano de actividade como Antologista, relançou-se como Editor e tem
dois livros de sua autoria: «Amargo Amargar» e «O Pranto do Cisne».
Em
agosto de 2015, você iniciou a sua actividade como antologista de diversos
títulos e, em Dezembro, lançou a Sui Generis. Volvido um ano, que balanço faz
do seu trabalho?
Muito positivo! Organizei 12 antologias:
algumas já editadas, outras ainda decorrem. «A Bíblia dos Pecadores» foi a primeira;
concebi-a após ter sido distinguido num concurso literário e despertou tanto
interesse como celeuma. Os meses iniciais, além de trabalhosos, revelaram-se
turbulentos porque procurei apoio junto de uma editora que só pretendia
apoderar-se do meu projecto. Ao dar-me conta de que estava prestes a ser vítima
de um golpe, defendi a minha obra! Não permiti ser ludibriado com falsas
promessas, muito menos vigarizado. Sem um contrato de edição assinado, bati com
a porta e lancei a Sui Generis para dar vida aos meus projectos, resistindo
sempre a ameaças e perseguições. Estabeleci outra parceria com a EuEdito, esta uma
editora honesta e transparente que merece toda a credibilidade, e avancei logo
com duas novas antologias, ambas já editadas: «O Beijo do Vampiro» e «Vendaval
de Emoções». Desde aí, ultrapassados os obstáculos iniciais, outros projectos surgiram
como bola de neve. E aquando do primeiro aniversário como antologista, comecei
a preparar o lançamento de livros individuais. Da minha autoria e de outros
autores. O balanço é feliz. Sinto-me realizado.
Além
de contos, trabalha também com poesia, tendo lançado a antologia poética «Vendaval
de Emoções». Como surgiu a ideia desse livro? Como foi a selecção e o
lançamento?
Essa é a terceira antologia da
Colecção Sui Generis, sendo a primeira dedicada à poesia. Reúne 192 textos
poéticos de 57 autores lusófonos (entre eles, 18 brasileiros) e conta com um
convidado especial: o dramaturgo Tito Lívio, que tem uma longa carreira de meio
século no teatro e nas letras e quis honrar-nos com a presença de poemas
inéditos de sua autoria, escritos durante a sua juventude. Pessoalmente,
privilegiei sempre a prosa, género a que me dedico desde a adolescência. No
entanto, em 2014, um poema da poetisa Rosa Maria chamou-me a atenção, ficou-me
no subconsciente; mais tarde, despertaria a poesia que existe dentro de mim e
dediquei, também, uma obra à poesia, cujo tema são as emoções. A adesão foi boa
e a selecção de textos nada fácil, tendo resultado num livro belíssimo, cujo
lançamento ocorreu num espaço igualmente lindíssimo: o sofisticado e acolhedor Vlada
Lounge, em Lisboa. Depois, organizei «Torrente de Paixões», também dedicada à
poesia. Mas a tendência é para organizar projectos mistos, que englobam prosa (contos
e crónicas) e poesia, tornando-os mais abrangentes. São os casos de «Os
Vigaristas», «Saloios & Caipiras», «Graças a Deus!» e o segundo volume de
«A Bíblia dos Pecadores», que inclui um «Testamento Poético».
Você
tem vários livros em fase de lançamento: «Ninguém Leva a Mal», «Sexta-Feira
13», «Saloios & Caipiras» e «Torrente de Paixões». É nítido o seu intenso
trabalho em prol da literatura mesclando escritores portugueses e brasileiros
em suas obras. Como está sendo a presença dos escritores brasileiros em relação
aos portugueses?
A ordem é essa, porém, darei
prioridade a «Sexta-Feira 13», que reúne contos assombrosos recheados de mitos
e superstições; será impressa após lançar a antologia «Graças a Deus!», sendo
esta uma Acção de Graças que priorizei devido à proximidade do Natal. A seguir,
«Saloios & Caipiras» e a antologia poética dedicada às paixões. «Ninguém
Leva a Mal», cujo título deriva de uma expressão popular («É Carnaval, ninguém
leva a mal!») reúne estórias carnavalescas. Serão lançadas, todas sem excepção,
no início de 2017. Quanto à presença de autores brasileiros nas obras Sui
Generis, é muito forte; vai crescendo de antologia para antologia. Tive sempre
amigos brasileiros e partilhei, durante 11 anos, um apartamento com dois
brasileiros. Talvez essa forte empatia me tenha feito enveredar pela lusofonia.
A adesão de autores brasileiros é boa, desde o início, fazendo as antologias
Sui Generis produzirem um intercâmbio cultural bastante salutar. Já organizei
uma obra luso-brasileira («Saloios & Caipiras») dedicada às ruralidades,
enaltecendo pessoas e vivências saloias e caipiras dos dois países irmãos, e
convidei a autora (brasileira) Marcella Reis para coordená-la. Isso despertou
mais atenções. Tenciono envolver mais autores em futuros projectos e estou a considerar,
para 2017, uma antologia dedicada a um mito brasileiro. Receber textos de
portugueses e de brasileiros de todas as partes do Brasil é uma experiência riquíssima.
Textos que revelam sensibilidades, estilos e culturas tão variadas; embora
depare com alguma dificuldade nas revisões, enriquecem-me sobremaneira. É mais
uma das minhas experiências únicas, verdadeiramente sui generis.
No
momento, você está analisando e seleccionando os textos para «Os Vigaristas» e
«Devassos no Paraíso». Em que se baseiam estas antologias?
As selecções estão concluídas, já
passei à fase da revisão de textos. Mais uma vez, ambas incluem imensos autores
brasileiros. «Devassos no Paraíso» é o primeiro projecto Sui Generis dedicado
ao erotismo; reúne contos sensuais e eróticos. «Os Vigaristas», cujo número de
participações portuguesas e brasileiras é similar (está bem equilibrado, tal
como em «Graças a Deus!»), é uma obra bastante peculiar, a única resultante de um
impulso; todas as outras foram amadurecidas. Surgiu na sequência do conflito
com o grupo editorial que tentou prejudicar-me, perseguindo, ameaçando,
sabotando, tentando desestabilizar-me, desmoralizar-me. Chegaram ao cúmulo de
organizar um concurso cujo tema (oportunismo) visava atingir-me. Desta vez,
reagi: não permiti que continuassem a tentar pisar-me. Uma antologia dedicada
aos vigaristas (crónicas, poemas e contos do vigário) foi a melhor resposta.
Bastou divulgar o regulamento para recuperar a paz. Curiosamente, desde aí,
surgiram mais denúncias sobre práticas irregulares da tal empresa; houve
autores que rescindiram contratos de edição e outros abdicaram de prémios
literários atribuídos por essa editora. Ignoro o resultado do concurso que
visava atingir-me, mas creio não ter sido bom porque acabaram por extinguir
esse projecto. Quem queira conhecer certos “podres” que grassam no universo
literário português, fique atento a «Os Vigaristas». Denunciam-se muitas “realidades
infelizes” através da literatura.
Além
das antologias com diversos autores, a Colecção Sui Generis também publica
obras de autores individuais. Neste momento, você está lançando vários livros
desta colecção, entre eles «Amargo Amargar», de sua autoria. Pode falar sobre este
livro para conhecermos mais?
Antes de abordar o livro, permita um
esclarecimento. No mês em que completei um ano como antologista, assumi-me,
publicamente, como editor. Na verdade, relancei-me, visto ter feito um
interregno de dois anos. Sou editor de publicações periódicas há 20 anos.
Fundei e dirigi revistas, jornais e guias turísticos entre 1996 e 2014 e editei
a primeira antologia em 2001. Assumi agora, também, a edição de livros.
Doravante, a Colecção Sui Generis contemplará obras colectivas e livros individuais,
mantendo a parceria com a EuEdito; é mais vantajoso, em todos os aspectos.
Novos autores, portugueses ou não, têm a possibilidade de lançar livros com o
selo Sui Generis, fruindo das vantagens associadas. Já temos cinco em fase de
edição, cujos lançamentos ocorrem em Dezembro: «Amargo Amargar» de minha
autoria, «Mar em Mim» de Rosa Marques, «Almas Feridas» de Suzete Fraga e
«Decifra-me... ou Devoro-te!» de Guadalupe Navarro, autora residente no Rio de
Janeiro que prefere editar em Portugal. Além destes, publiquei «O Pranto do
Cisne» (também escrito por mim) em Outubro, na Amazon, em ebook Kindle; a versão
impressa será lançada em Dezembro. Embora tenha começado com estes dois livros,
não foram os primeiros que escrevi. Tenho outros, especialmente um romance, a
obra mais antiga que levei a cabo, em 1999; será publicado em 2017, se Deus
quiser.
Porque
escolheu «Amargo Amargar» e «O Pranto do Cisne» para a sua estreia enquanto
autor individual, em vez do romance? Por alguma razão especial?
O título do romance é «Juno e Java» e
sonhei publicá-lo desde sempre. Preferia lançá-lo já, mas torna-se mais
dispendioso porque tem o triplo de páginas em relação aos outros, que são mais
recentes. Quando senti chegado o momento de editar os meus livros, tencionava
fazer a estreia com esse romance. Anunciei, inclusive, no início deste ano, a
sua publicação em duas entrevistas. Razões económicas fizeram-me optar por obras
menos caras. Digamos que, a nível financeiro, não é o momento oportuno. O
romance ultrapassa 300 páginas. «Amargo Amargar» tem um terço dessas páginas; portanto,
é muito mais pequeno. «O Pranto do Cisne» também. Ambos acarretam menos custos
de produção. É mais acessível começar a lançar livros pequenos do que obras
volumosas. Não obstante, chegará a vez do romance.
Voltando
a «Amargo Amargar», quais são os temas abordados neste livro?
«Amargo Amargar» é um livro de contos,
dedicados ao universo feminino. Reúne estórias de seis mulheres distintas entre
si, porém, com fortes personalidades: mulheres que amam verdadeiramente,
mulheres que sofrem desalmadamente, mulheres que amargam amargamente o cálice
do sofrimento. São seis estórias bem elaboradas, bastante complexas,
minuciosas; quase pequenas novelas. Quatro narrativas são contemporâneas; duas
ambientam-se no início do século XX, entre o Regicídio e a Implantação da
República em Portugal. Estas abordam o valor da fidelidade e as consequências
do adultério em famílias aristocratas; numa delas, distinguida num concurso
literário, há uma mãe sem escrúpulos que disputa o amor do genro com a filha.
Doação de olhos (córnea) para devolver a visão à pessoa amada, a camponesa alvo
do preconceito de famílias poderosas, gravidez na adolescência, amor com
membros do clero, aborto em meios assaz religiosos e poliamor são temas
vincados nas outras narrativas, ambientadas em idílicos cenários campestres
como a fictícia e deslumbrante Serra Mourisca.
E «O
Pranto do Cisne»? Que temas aborda e o que o distingue do outro livro?
«O Pranto do Cisne» também inclui contos nas
suas páginas. Cinco textos igualmente longos e complexos, porém, homoeróticos.
Existe um fio condutor entre eles e as cinco estórias são protagonizadas pelo
mesmo personagem. Ambos os livros contêm temas actuais e fracturantes;
abordagens profundas bastante polémicas. Pontos fortes na minha escrita: sensualidade,
romantismo e dramaticidade. Cada estória de «Amargo Amargar» mostra isso,
embora a sensualidade esteja mais latente. Os próprios títulos, tal como as capas,
sugerem dramas. Reflectem os conteúdos de ambos os livros. Mas «O Pranto do
Cisne» mergulha noutros universos como o da homossexualidade no futebol,
considerado o desporto-rei, todavia viril, para machões; debruça-se também
sobre as relações abertas, a futilidade das celebridades, incesto e apresenta muitas
aventuras libidinosas, mescladas com a tragédia familiar que envolve a morte de
um pai cujo filho, uma alma sensível e apaixonante, se refugia em amores de
ocasião para atenuar a dor que lhe corrói o coração e tudo fará para se vingar
da mãe assassina. Além do drama de o protagonista ver o pai assassinado pela
própria mãe que o abandonara em criança, tem um teor erótico deveras acentuado.
Não se recomenda a almas sensíveis.
Você
tem a decorrer, presentemente, duas novas antologias com temas sempre
diferentes: «Anjos & Demónios» e «Graças a Deus!»...
Sim, terminou recentemente a submissão
de textos para o segundo volume de «A Bíblia dos Pecadores», desta vez dedicada
a «Os Três Testamentos», com poesia incluída, cujos textos seleccionados
constituem o «Testamento Poético». «Graças a Deus!», a nossa antologia de
Natal, embora não seja especificamente natalina, também já finalizou; reúne
meia centena de autores lusófonos. «Anjos & Demónios» ainda decorre, com
prazo alargado, e visa seleccionar Contos Sobrenaturais. No final de
Setembro, vi esta mesma antologia Sui Generis dedicada ao Sobrenatural, «Anjos
& Demónios», ser copiada por uma editora no Brasil e denunciei a situação.
Não reproduziram a obra em si, que ainda não está concluída, mas a ideia do
projecto: mesmo tema, mesmo título, mesmas regras, mesmos prazos de submissão,
regulamentos muito idênticos. Que nome dar a isso senão cópia? Há várias
maneiras de elaborar regulamentos que transmitem a mesma coisa. Meia dúzia de
palavras cortadas ou alteradas não escondem um copy/paste. Mas não são
situações desagradáveis como essa que me desmotivam. Pelo contrário! Há que
continuar. Inovando sempre e destacando-me pela diferença. Quanto às más acções,
ficam com quem as pratica.
Porquê
«Graças a Deus!» para título de uma antologia de Natal?
É a 12ª antologia Sui Generis. Doze
antologias literárias num ano! Um número místico, recheado de simbolismo: como
os 12 meses do ano, os 12 signos do Zodíaco, as 12 tribos de Israel, os 12
Apóstolos, o dia e mês do meu nascimento (12 de Dezembro), etc. Acredito que
nada acontece por acaso; não há coincidências! E tenho fé em Deus. Não sendo
católico praticante, creio que tudo o que sucede na minha vida tem o peso da mão
divina. Sempre senti Deus presente no meu dia-a-dia. Quer na vida pessoal ou a
nível profissional. Especificamente no caso literário, dou muitas Graças a Deus
por tudo o que aconteceu e realizei ao longo do último ano, inclusive os momentos
dramáticos que despoletaram outros melhores, fortalecendo-me. Por isso mesmo, o
projecto de Natal tem prioridade e é uma dedicatória a Deus... um agradecimento
ao Senhor... uma Acção de Graças na quadra natalícia que integra textos variadíssimos
de meia centena de autores (contos, crónicas, reflexões, cartas, poemas, etc);
inclui, também, um poema natalino do Papa Francisco e declarações belíssimas proferidas
pelo Sumo Pontífice em homilias. Embora pequeno, é o melhor agradecimento! O
livro estará à venda no início de Dezembro; é uma bela prenda de Natal que se
pode oferecer. Quem o desejar, contacte-nos.
O que
o fascina nas obras colectivas?
Acima de tudo, o convívio e interacção com
outros autores. Escrever é um acto solitário e eu só partilho os meus textos
quando estiver totalmente satisfeito com os mesmos e nada mais tenha de ser
corrigido. Organizar é diferente. Implica contacto permanente com autores (leitores
também), conheço constantemente novos autores, leio e revejo os seus textos, divulgo,
selecciono, produzo obras com diversos temas. Embora se possa tornar um ciclo
vicioso, há sempre algo novo. Por outro lado, a maior riqueza de uma antologia
reside na variedade dos seus conteúdos, na diversidade dos seus textos, nos
diferentes estilos, sensibilidades e graus culturais com que foram escritos. São
esses pormenores que me fascinam nas obras colectivas. Além disso, como as
pessoas têm cada vez menos tempo para ler, uma antologia oferece a possibilidade
de se ler estórias curtas e conhecer diferentes autores em períodos mais breves.
Quais
são os planos para os próximos tempos?
Em Dezembro, lançar «Graças a Deus!» e os
livros individuais. No início de 2017, os projectos finalizados: «Ninguém Leva
a Mal», «Sexta-Feira 13», «Saloios & Caipiras» e «Torrente de Paixões».
Seguem-se «Os Vigaristas», «Devassos no Paraíso» e o segundo volume de «A
Bíblia dos Pecadores». Serão conhecidas, brevemente, novas antologias para 2017,
com temas (sempre distintos) relacionados com viagens, discriminações,
policiais e darei continuidade à «Bíblia»; sim, haverá o terceiro volume, com
algumas nuances ou particularidades, embora siga a linha da Sagrada Escritura. Para
uma fase imediata... «Graças a Deus!» revelou-se uma experiência diferente,
gratificante, com feedback imediato aos autores e interacção constante;
tenciono repetir esse modelo. Após uma Acção de Graças, vamos celebrar a Vida
através da literatura, fazendo um Hino à Vida, para que o Ano Novo seja pleno
de realizações. As antologias Sui Generis estão abertas a qualquer participação;
novos autores lusófonos são bem-vindos! Além disso, há outras obras individuais
no horizonte e, em 2017, desejo um maior envolvimento de autores em projectos
Sui Generis, criar novas parcerias e dedicar-me aos meus livros que ficaram de
lado: «De Lírios» (contos), «Feiticeiro do Amor» (poesia) e «Juno e Java»
(romance).
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