13 dezembro, 2016

CONEXÃO LITERATURA 18 - ENTREVISTA COM ISIDRO SOUSA

Fotografia: Dado Goes

ENTREVISTA COM ISIDRO SOUSA
Publicada na revista Conexão Literatura
Edição nº 18 | Dezembro 2016
Páginas 47-53



Isidro Sousa nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, Portugal, e reside em Lisboa. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com diversas editoras, participou em duas dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Completou, em Agosto, um ano de actividade como Antologista, relançou-se como Editor e tem dois livros de sua autoria: «Amargo Amargar» e «O Pranto do Cisne».




Em agosto de 2015, você iniciou a sua actividade como antologista de diversos títulos e, em Dezembro, lançou a Sui Generis. Volvido um ano, que balanço faz do seu trabalho?

Muito positivo! Organizei 12 antologias: algumas já editadas, outras ainda decorrem. «A Bíblia dos Pecadores» foi a primeira; concebi-a após ter sido distinguido num concurso literário e despertou tanto interesse como celeuma. Os meses iniciais, além de trabalhosos, revelaram-se turbulentos porque procurei apoio junto de uma editora que só pretendia apoderar-se do meu projecto. Ao dar-me conta de que estava prestes a ser vítima de um golpe, defendi a minha obra! Não permiti ser ludibriado com falsas promessas, muito menos vigarizado. Sem um contrato de edição assinado, bati com a porta e lancei a Sui Generis para dar vida aos meus projectos, resistindo sempre a ameaças e perseguições. Estabeleci outra parceria com a EuEdito, esta uma editora honesta e transparente que merece toda a credibilidade, e avancei logo com duas novas antologias, ambas já editadas: «O Beijo do Vampiro» e «Vendaval de Emoções». Desde aí, ultrapassados os obstáculos iniciais, outros projectos surgiram como bola de neve. E aquando do primeiro aniversário como antologista, comecei a preparar o lançamento de livros individuais. Da minha autoria e de outros autores. O balanço é feliz. Sinto-me realizado.



Além de contos, trabalha também com poesia, tendo lançado a antologia poética «Vendaval de Emoções». Como surgiu a ideia desse livro? Como foi a selecção e o lançamento?

Essa é a terceira antologia da Colecção Sui Generis, sendo a primeira dedicada à poesia. Reúne 192 textos poéticos de 57 autores lusófonos (entre eles, 18 brasileiros) e conta com um convidado especial: o dramaturgo Tito Lívio, que tem uma longa carreira de meio século no teatro e nas letras e quis honrar-nos com a presença de poemas inéditos de sua autoria, escritos durante a sua juventude. Pessoalmente, privilegiei sempre a prosa, género a que me dedico desde a adolescência. No entanto, em 2014, um poema da poetisa Rosa Maria chamou-me a atenção, ficou-me no subconsciente; mais tarde, despertaria a poesia que existe dentro de mim e dediquei, também, uma obra à poesia, cujo tema são as emoções. A adesão foi boa e a selecção de textos nada fácil, tendo resultado num livro belíssimo, cujo lançamento ocorreu num espaço igualmente lindíssimo: o sofisticado e acolhedor Vlada Lounge, em Lisboa. Depois, organizei «Torrente de Paixões», também dedicada à poesia. Mas a tendência é para organizar projectos mistos, que englobam prosa (contos e crónicas) e poesia, tornando-os mais abrangentes. São os casos de «Os Vigaristas», «Saloios & Caipiras», «Graças a Deus!» e o segundo volume de «A Bíblia dos Pecadores», que inclui um «Testamento Poético».



Você tem vários livros em fase de lançamento: «Ninguém Leva a Mal», «Sexta-Feira 13», «Saloios & Caipiras» e «Torrente de Paixões». É nítido o seu intenso trabalho em prol da literatura mesclando escritores portugueses e brasileiros em suas obras. Como está sendo a presença dos escritores brasileiros em relação aos portugueses?

A ordem é essa, porém, darei prioridade a «Sexta-Feira 13», que reúne contos assombrosos recheados de mitos e superstições; será impressa após lançar a antologia «Graças a Deus!», sendo esta uma Acção de Graças que priorizei devido à proximidade do Natal. A seguir, «Saloios & Caipiras» e a antologia poética dedicada às paixões. «Ninguém Leva a Mal», cujo título deriva de uma expressão popular («É Carnaval, ninguém leva a mal!») reúne estórias carnavalescas. Serão lançadas, todas sem excepção, no início de 2017. Quanto à presença de autores brasileiros nas obras Sui Generis, é muito forte; vai crescendo de antologia para antologia. Tive sempre amigos brasileiros e partilhei, durante 11 anos, um apartamento com dois brasileiros. Talvez essa forte empatia me tenha feito enveredar pela lusofonia. A adesão de autores brasileiros é boa, desde o início, fazendo as antologias Sui Generis produzirem um intercâmbio cultural bastante salutar. Já organizei uma obra luso-brasileira («Saloios & Caipiras») dedicada às ruralidades, enaltecendo pessoas e vivências saloias e caipiras dos dois países irmãos, e convidei a autora (brasileira) Marcella Reis para coordená-la. Isso despertou mais atenções. Tenciono envolver mais autores em futuros projectos e estou a considerar, para 2017, uma antologia dedicada a um mito brasileiro. Receber textos de portugueses e de brasileiros de todas as partes do Brasil é uma experiência riquíssima. Textos que revelam sensibilidades, estilos e culturas tão variadas; embora depare com alguma dificuldade nas revisões, enriquecem-me sobremaneira. É mais uma das minhas experiências únicas, verdadeiramente sui generis.



No momento, você está analisando e seleccionando os textos para «Os Vigaristas» e «Devassos no Paraíso». Em que se baseiam estas antologias?

As selecções estão concluídas, já passei à fase da revisão de textos. Mais uma vez, ambas incluem imensos autores brasileiros. «Devassos no Paraíso» é o primeiro projecto Sui Generis dedicado ao erotismo; reúne contos sensuais e eróticos. «Os Vigaristas», cujo número de participações portuguesas e brasileiras é similar (está bem equilibrado, tal como em «Graças a Deus!»), é uma obra bastante peculiar, a única resultante de um impulso; todas as outras foram amadurecidas. Surgiu na sequência do conflito com o grupo editorial que tentou prejudicar-me, perseguindo, ameaçando, sabotando, tentando desestabilizar-me, desmoralizar-me. Chegaram ao cúmulo de organizar um concurso cujo tema (oportunismo) visava atingir-me. Desta vez, reagi: não permiti que continuassem a tentar pisar-me. Uma antologia dedicada aos vigaristas (crónicas, poemas e contos do vigário) foi a melhor resposta. Bastou divulgar o regulamento para recuperar a paz. Curiosamente, desde aí, surgiram mais denúncias sobre práticas irregulares da tal empresa; houve autores que rescindiram contratos de edição e outros abdicaram de prémios literários atribuídos por essa editora. Ignoro o resultado do concurso que visava atingir-me, mas creio não ter sido bom porque acabaram por extinguir esse projecto. Quem queira conhecer certos “podres” que grassam no universo literário português, fique atento a «Os Vigaristas». Denunciam-se muitas “realidades infelizes” através da literatura.



Além das antologias com diversos autores, a Colecção Sui Generis também publica obras de autores individuais. Neste momento, você está lançando vários livros desta colecção, entre eles «Amargo Amargar», de sua autoria. Pode falar sobre este livro para conhecermos mais?

Antes de abordar o livro, permita um esclarecimento. No mês em que completei um ano como antologista, assumi-me, publicamente, como editor. Na verdade, relancei-me, visto ter feito um interregno de dois anos. Sou editor de publicações periódicas há 20 anos. Fundei e dirigi revistas, jornais e guias turísticos entre 1996 e 2014 e editei a primeira antologia em 2001. Assumi agora, também, a edição de livros. Doravante, a Colecção Sui Generis contemplará obras colectivas e livros individuais, mantendo a parceria com a EuEdito; é mais vantajoso, em todos os aspectos. Novos autores, portugueses ou não, têm a possibilidade de lançar livros com o selo Sui Generis, fruindo das vantagens associadas. Já temos cinco em fase de edição, cujos lançamentos ocorrem em Dezembro: «Amargo Amargar» de minha autoria, «Mar em Mim» de Rosa Marques, «Almas Feridas» de Suzete Fraga e «Decifra-me... ou Devoro-te!» de Guadalupe Navarro, autora residente no Rio de Janeiro que prefere editar em Portugal. Além destes, publiquei «O Pranto do Cisne» (também escrito por mim) em Outubro, na Amazon, em ebook Kindle; a versão impressa será lançada em Dezembro. Embora tenha começado com estes dois livros, não foram os primeiros que escrevi. Tenho outros, especialmente um romance, a obra mais antiga que levei a cabo, em 1999; será publicado em 2017, se Deus quiser.



Porque escolheu «Amargo Amargar» e «O Pranto do Cisne» para a sua estreia enquanto autor individual, em vez do romance? Por alguma razão especial?

O título do romance é «Juno e Java» e sonhei publicá-lo desde sempre. Preferia lançá-lo já, mas torna-se mais dispendioso porque tem o triplo de páginas em relação aos outros, que são mais recentes. Quando senti chegado o momento de editar os meus livros, tencionava fazer a estreia com esse romance. Anunciei, inclusive, no início deste ano, a sua publicação em duas entrevistas. Razões económicas fizeram-me optar por obras menos caras. Digamos que, a nível financeiro, não é o momento oportuno. O romance ultrapassa 300 páginas. «Amargo Amargar» tem um terço dessas páginas; portanto, é muito mais pequeno. «O Pranto do Cisne» também. Ambos acarretam menos custos de produção. É mais acessível começar a lançar livros pequenos do que obras volumosas. Não obstante, chegará a vez do romance.



Voltando a «Amargo Amargar», quais são os temas abordados neste livro?

«Amargo Amargar» é um livro de contos, dedicados ao universo feminino. Reúne estórias de seis mulheres distintas entre si, porém, com fortes personalidades: mulheres que amam verdadeiramente, mulheres que sofrem desalmadamente, mulheres que amargam amargamente o cálice do sofrimento. São seis estórias bem elaboradas, bastante complexas, minuciosas; quase pequenas novelas. Quatro narrativas são contemporâneas; duas ambientam-se no início do século XX, entre o Regicídio e a Implantação da República em Portugal. Estas abordam o valor da fidelidade e as consequências do adultério em famílias aristocratas; numa delas, distinguida num concurso literário, há uma mãe sem escrúpulos que disputa o amor do genro com a filha. Doação de olhos (córnea) para devolver a visão à pessoa amada, a camponesa alvo do preconceito de famílias poderosas, gravidez na adolescência, amor com membros do clero, aborto em meios assaz religiosos e poliamor são temas vincados nas outras narrativas, ambientadas em idílicos cenários campestres como a fictícia e deslumbrante Serra Mourisca.



E «O Pranto do Cisne»? Que temas aborda e o que o distingue do outro livro?

«O Pranto do Cisne» também inclui contos nas suas páginas. Cinco textos igualmente longos e complexos, porém, homoeróticos. Existe um fio condutor entre eles e as cinco estórias são protagonizadas pelo mesmo personagem. Ambos os livros contêm temas actuais e fracturantes; abordagens profundas bastante polémicas. Pontos fortes na minha escrita: sensualidade, romantismo e dramaticidade. Cada estória de «Amargo Amargar» mostra isso, embora a sensualidade esteja mais latente. Os próprios títulos, tal como as capas, sugerem dramas. Reflectem os conteúdos de ambos os livros. Mas «O Pranto do Cisne» mergulha noutros universos como o da homossexualidade no futebol, considerado o desporto-rei, todavia viril, para machões; debruça-se também sobre as relações abertas, a futilidade das celebridades, incesto e apresenta muitas aventuras libidinosas, mescladas com a tragédia familiar que envolve a morte de um pai cujo filho, uma alma sensível e apaixonante, se refugia em amores de ocasião para atenuar a dor que lhe corrói o coração e tudo fará para se vingar da mãe assassina. Além do drama de o protagonista ver o pai assassinado pela própria mãe que o abandonara em criança, tem um teor erótico deveras acentuado. Não se recomenda a almas sensíveis. 



Você tem a decorrer, presentemente, duas novas antologias com temas sempre diferentes: «Anjos & Demónios» e «Graças a Deus!»...

Sim, terminou recentemente a submissão de textos para o segundo volume de «A Bíblia dos Pecadores», desta vez dedicada a «Os Três Testamentos», com poesia incluída, cujos textos seleccionados constituem o «Testamento Poético». «Graças a Deus!», a nossa antologia de Natal, embora não seja especificamente natalina, também já finalizou; reúne meia centena de autores lusófonos. «Anjos & Demónios» ainda decorre, com prazo alargado, e visa seleccionar Contos Sobrenaturais. No final de Setembro, vi esta mesma antologia Sui Generis dedicada ao Sobrenatural, «Anjos & Demónios», ser copiada por uma editora no Brasil e denunciei a situação. Não reproduziram a obra em si, que ainda não está concluída, mas a ideia do projecto: mesmo tema, mesmo título, mesmas regras, mesmos prazos de submissão, regulamentos muito idênticos. Que nome dar a isso senão cópia? Há várias maneiras de elaborar regulamentos que transmitem a mesma coisa. Meia dúzia de palavras cortadas ou alteradas não escondem um copy/paste. Mas não são situações desagradáveis como essa que me desmotivam. Pelo contrário! Há que continuar. Inovando sempre e destacando-me pela diferença. Quanto às más acções, ficam com quem as pratica.



Porquê «Graças a Deus!» para título de uma antologia de Natal?

É a 12ª antologia Sui Generis. Doze antologias literárias num ano! Um número místico, recheado de simbolismo: como os 12 meses do ano, os 12 signos do Zodíaco, as 12 tribos de Israel, os 12 Apóstolos, o dia e mês do meu nascimento (12 de Dezembro), etc. Acredito que nada acontece por acaso; não há coincidências! E tenho fé em Deus. Não sendo católico praticante, creio que tudo o que sucede na minha vida tem o peso da mão divina. Sempre senti Deus presente no meu dia-a-dia. Quer na vida pessoal ou a nível profissional. Especificamente no caso literário, dou muitas Graças a Deus por tudo o que aconteceu e realizei ao longo do último ano, inclusive os momentos dramáticos que despoletaram outros melhores, fortalecendo-me. Por isso mesmo, o projecto de Natal tem prioridade e é uma dedicatória a Deus... um agradecimento ao Senhor... uma Acção de Graças na quadra natalícia que integra textos variadíssimos de meia centena de autores (contos, crónicas, reflexões, cartas, poemas, etc); inclui, também, um poema natalino do Papa Francisco e declarações belíssimas proferidas pelo Sumo Pontífice em homilias. Embora pequeno, é o melhor agradecimento! O livro estará à venda no início de Dezembro; é uma bela prenda de Natal que se pode oferecer. Quem o desejar, contacte-nos.



O que o fascina nas obras colectivas?

Acima de tudo, o convívio e interacção com outros autores. Escrever é um acto solitário e eu só partilho os meus textos quando estiver totalmente satisfeito com os mesmos e nada mais tenha de ser corrigido. Organizar é diferente. Implica contacto permanente com autores (leitores também), conheço constantemente novos autores, leio e revejo os seus textos, divulgo, selecciono, produzo obras com diversos temas. Embora se possa tornar um ciclo vicioso, há sempre algo novo. Por outro lado, a maior riqueza de uma antologia reside na variedade dos seus conteúdos, na diversidade dos seus textos, nos diferentes estilos, sensibilidades e graus culturais com que foram escritos. São esses pormenores que me fascinam nas obras colectivas. Além disso, como as pessoas têm cada vez menos tempo para ler, uma antologia oferece a possibilidade de se ler estórias curtas e conhecer diferentes autores em períodos mais breves.



Quais são os planos para os próximos tempos?

Em Dezembro, lançar «Graças a Deus!» e os livros individuais. No início de 2017, os projectos finalizados: «Ninguém Leva a Mal», «Sexta-Feira 13», «Saloios & Caipiras» e «Torrente de Paixões». Seguem-se «Os Vigaristas», «Devassos no Paraíso» e o segundo volume de «A Bíblia dos Pecadores». Serão conhecidas, brevemente, novas antologias para 2017, com temas (sempre distintos) relacionados com viagens, discriminações, policiais e darei continuidade à «Bíblia»; sim, haverá o terceiro volume, com algumas nuances ou particularidades, embora siga a linha da Sagrada Escritura. Para uma fase imediata... «Graças a Deus!» revelou-se uma experiência diferente, gratificante, com feedback imediato aos autores e interacção constante; tenciono repetir esse modelo. Após uma Acção de Graças, vamos celebrar a Vida através da literatura, fazendo um Hino à Vida, para que o Ano Novo seja pleno de realizações. As antologias Sui Generis estão abertas a qualquer participação; novos autores lusófonos são bem-vindos! Além disso, há outras obras individuais no horizonte e, em 2017, desejo um maior envolvimento de autores em projectos Sui Generis, criar novas parcerias e dedicar-me aos meus livros que ficaram de lado: «De Lírios» (contos), «Feiticeiro do Amor» (poesia) e «Juno e Java» (romance).





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