PREFÁCIO
O gosto pela
escrita levou-me a conhecer pessoas fantásticas no meio literário, uma dessas
pessoas é o meu caro amigo Isidro Sousa. A simpatia e o seu espírito de
entreajuda cativaram-me logo. Com o tempo, fui-lhe detetando outras qualidades
como a lealdade, humildade, perseverança, persistência e uma dose de
perfecionismo que, garanto, roça a obsessão extrema, coisa rara de se
encontrar, e, verdade se diga, muito tem contribuído para enriquecer a minha
(modesta) bagagem de conhecimentos.
Quando me
endereçou o convite para fazer o prefácio do seu primeiro livro fui acometida
por um sentimento de orgulho e felicidade tal que nem pensei duas vezes para
aceitar semelhante honra e privilégio. A vaidade que se apossou de mim ofuscou,
momentaneamente, a grande responsabilidade que me recaía sobre os ombros.
Depois, quando desci à Terra, o pânico apoderou-se dos meus dedos. Porque as
minhas capacidades estão muito aquém de produzir o prefácio que o Isidro
merece.
Prefaciar
«Amargo Amargar» é, portanto, uma tarefa hercúlea que me deixa estarrecida e
petrificada. Da sua leitura já não posso dizer o mesmo... foi um deleite para a
vista e para a alma! Fui abalroada com um cuidado extremo na escolha das
palavras, um vocabulário rico e diversificado, enredos alucinantes e um
incansável trabalho de pesquisa. Como se não bastasse, com esta obra o autor
proporciona ao leitor ingressos para cenários distintos, descritos com uma
mestria capaz de atordoar o maior descrente.
Ao ler «A
Angústia de Manuela» e «O Casamento de Eulália» tem como destino um plano de
ação ambientado no início do século XX, convertendo-se, indubitavelmente, num
intruso viciado nos usos e costumes da época, nos palacetes, bailes, casamentos
e até nos momentos políticos mais conturbados da nossa História, muito bem
corroborados com referências ao Regicídio e às revoltas entre monárquicos e
republicanos.
Para os
restantes contos o autor recorreu à memória dos seus tempos de meninice e
adolescência. Muitos plantaram e arrancaram batatas, ceifaram feno e centeio,
colheram e desfolharam milho, cavaram terra, enterraram os pés descalços na
água enquanto regavam hortas, batatais e morangais, muitos guardaram cabras e
ovelhas nas encostas serris, como o Isidro, mas poucos descrevem a beleza
bucólica de forma tão sentida e avassaladora. As narrações pormenorizadas fazem
acreditar numa Serra Mourisca verídica e querer visitar as suas imediações:
Vila Rica, o Rio Luzio, a Quinta do Mocho, a Igreja Matriz de Vila Rica ou o
Parque Arqueológico da Mourisca.
“Deus não é ciumento, pois não?” é uma
questão que surge em «O Dilema de Beatriz». Ela, uma rocha lapidada na forja
madrasta da vida, “sentiu vontade de
vomitar o seu infortúnio numa raiva incontrolada...” porque “Até as rochas mais duras agradecem a suave
carícia do mar.” Relatos quase fotográficos dão a conhecer o plano
arquitetónico da Igreja Matriz de Vila Rica. É neste cenário religioso que: “Um longo silêncio tumular imperava na sua
mente absorta em pensamentos que se emaranhavam entre o bem e o mal...”
E se com
estes excertos a curiosidade já fervilha freneticamente, espere para ler as
peripécias em que a pobre viúva Matilde andou metida em «O Susto de Matilde».
Mas, antes disso, assista ao romance que tem tanto de arrebatador como de
surpreendente. Imperdível o final de João Carlos que “Desfrutou de todas, mas não amou uma única, e nenhuma decerto o amou...”
Terá o sentimento que Celina nutria por este jovem aspirante a médico outro
nome que não amor? E será mesmo verdade que este jovem não amou uma única
mulher? Descubra a resposta em «A Emoção de Celina».
Por esta
altura, o coração palpitará, sem dúvida, descompassado com tantas emoções, mas
terá de manter-se forte para descobrir o fado de Matias. O cenário agridoce,
vou chamar-lhe assim, mexe com o espírito de quem vivencia esta história
apaixonante entre Helena e Matias. Inicialmente, reina o silêncio sepulcral,
típico dos cemitérios, apenas interrompido pelo piar duma coruja. Depois, com o
desenrolar da trama, a morbidez tumular vai desaparecendo para dar lugar a
ambientes idílicos e refrescantes. É este conto «Os Olhos de Helena» que o vai
fazer implorar por um feitiço que transforme a ficção em realidade, tal é o
utopismo empregue.
Poderia
romper o teclado com infinitas apreciações sobre este «Amargo Amargar». Ou
deixar no ar mais pistas sobre os enredos de «A Angústia de Manuela» ou «O
Casamento de Eulália» (distinguido com o segundo prémio no 5º Concurso
Literário da Papel D’Arroz), no entanto, esta é uma leitura que peca por
tardia; não me parece justo privar os leitores desta obra maravilhosa com mais
delongas.
Para
finalizar, só uma curiosidade: dou este prefácio por concluído exatamente à
mesma hora em que Portugal é aclamado campeão europeu. Se isto não é um bom
prenúncio não sei o que o será. Em ambos os casos, foi uma luta incansável
contra ventos e marés. Venceu quem mais lutou e deixou tudo em campo. Também no
caso do Isidro Sousa o único desfecho possível só pode ser o sucesso. Estou
certa de que esta será a primeira de muitas vitórias. Eu serei das primeiras na
fila para o desejado autógrafo. Parabéns, Isidro!
Suzete Fraga
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