PREFÁCIO
«Como o
campo é grande e o amor pequeno!»
(Alberto
Caeiro)
O sonho desse projecto começou nessa simples
e profunda frase do heterónimo mais descomplicado e campesino de Fernando
Pessoa, que afirmava: «Pensar é estar doente dos olhos.»
Saloios
& Caipiras é uma antologia de textos inéditos de
grandes autores seleccionados pelo Organizador Isidro Sousa e pela Coordenadora
Marcella Reis subordinados ao tema da Vida Rural e Campesina nos dois lados do
Atlântico: Brasil e Portugal. É “tale e quale” como o título da mesma sugere:
uma Antologia Luso-Brasileira de Contos, Lendas, Causos e Poesias (integrada na
Colecção Sui Generis, fundada e dirigida por Isidro Sousa e editada com a
chancela da EuEdito).
A vida rural é sinónimo de prazer,
simplicidade, alegria, fartura e, paradoxalmente, de muita luta, tristeza,
complexidade, pobreza e “fartura” do verbo faltar (termo bastante utilizado
pelas pessoas interioranas no Brasil ao trocar o “L” pelo “R”, como calça =
carça, valsa = varsa, “faltura” = fartura). Por causa dessa linguagem incomum,
popular e informal, falada por Saloios e Caipiras, com imensas palavras
desconhecidas e até inventadas, é que há um Glossário no apêndice dessa ilustre
Antologia.
Ah! O campo...
O campo e o interior já inspiraram poetas
portugueses como Cesário Verde, que versava o contraste entre o campo e a
cidade, Alberto Caeiro já acima referido, o mais simples heterónimo de Pessoa e
mestre de todos os outros heterónimos, a poetisa e prosista brasileira Cora
Coralina, que cantava em versos e contava em causos estórias de seu Goiás Velho
querido e a vida simples do caipira no meio de suas panelas de doces e mãos
temperadas de pimentas novas, frescas e cheirosas, e de seu velho “Goyáz”.
Toda esta vida interiorana, sertaneja e
rural, foi também retratada em obras renomadas como Grande Sertão Veredas (Guimarães Rosa), Rosinha Minha Canoa, Chuva
Crioula e Meu Pé de Laranja Lima
(Zé Mauro de Vasconcelos) e em tantas outras obras portuguesas e brasileiras!
E...
Foi mesmo por isso que nós desafiámos,
afiámos e desafiámos todos os Autores Brasileiros e Portugueses, interessados
em participar neste projecto, a criarem Poesia ou um texto sob a forma de Conto
e o resultado para essa temática, SALOIOS & CAIPIRAS, teve uma palavra como
protagonista: EMOÇÃO em letras garrafais. Foi essa emoção grande, como que
vista pelo fundo duma garrafa, que eu senti ao ler cada texto e poesia dos
autores seleccionados.
Aqui estão plantadas nesse livro que é terra
fértil: momentos de comédia, pequenas histórias com grandes romances e laços de
amizade que nos fazem render o joelho ao chão e agradecer pelos animais e pela
Mãe-Natureza, mininovelas, lendas, dramas familiares e de vínculos muito profundos,
intrigas, preces, cânticos em forma de pura homenagem. Homenagem esta onde
nomes de artistas e autores estão presentes através do seu trabalho feito de
coração, para representar e enaltecer o campo, os seus habitantes e visitantes.
Saloios
& Caipiras é uma Antologia gostosa de ler como o
biscoito feito pelas mãos enrugadas de uma pessoa que sabe o que vem do escuro
da terra. Cada texto e poesia tem o sabor do biscoito das prateleiras dos
velhos armários das grandes quintas e fazendas... Tem o sabor das risadas dadas
nas rodas em volta do fogão de lenha ou da fogueira. Tem o gosto rude da enxada
e da foice e o doce do suor lavado quando se acaba a lida do trabalho do
peão... Dos trabalhadores campesinos!
Esse livro tem o cheiro das pedras dos rios que
correm em cima delas, do sol quarando a roupa, das bananas bravas, das
mandiocas sendo paridas da terra, dos amores nos milharais, das pamonhas, das
papas de milho, dos pequis, jabuticabas, uvas do Douro, do Minho.
Ahhh!
Saboreiem, pois, cada gota das palavras que
aqui se fazem presentes. Elas cheiram à moça com vestido de chita e trança
Maria Chiquinha, elas cheiram ao luar estrelado do interior, cheiram a criança
pequena, “bacuri”... Esse livro cheira-nos a terra molhada!
Pois que: «O saber a gente aprende com os
mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.»
(Cora Coralina)
Ou... «Coração é terra que ninguém vê», como
dizia a poeta Cora Coralina.
Posso dizer-vos com alegria de que todos nós
escavamos essa terra e, através da semente das palavras plantadas, fizemos
brotar o nosso coração do solo e que ele seja sempre... transparente como a
água que rega a vida na sua simplicidade!
Todos os Autores Luso-Brasileiros (e de
outros Países Lusófonos) foram aqui muito bem acolhidos e colhidos no cesto da
admiração, do reconhecimento e o resultado é este: de abundância!
De facto vocês nos surpreenderam e sempre que
eu sentir saudades do campo voltarei a tirar umas férias nele.
Marcella Reis
Sessão de apresentação de «Saloios & Caipiras»
Domingo, 4 de Junho | 15h00 | Associação Cultural Casa Bô
Rua do Bonfim, Nº 356, no Porto
(próximo do Metro Campo 24 de Agosto)
Campanha Especial Lançamento: 15,00 euros
Pedidos e reservas pelo email: letras.suigeneris@gmail.com
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