Ontem... sábado, 6
de Julho.
Na cidade do Porto...
onde tornei a residir desde Abril de 2017.
Estive presente na
14ª Marcha do Orgulho LGBT+ do Porto, a mesma Marcha que vi nascer no já
longínquo ano de 2006 – concretamente no dia 8 de Julho de 2006 – na sequência
da violentíssima morte da transexual brasileira Gisberta Salce Júnior, que fora
brutalmente assassinada em Fevereiro desse ano por um bando de rapazolas do Porto...
um bando de assassinos delinquentes que ficaria impune dos seus crimes
hediondos. Na época, desloquei-me propositadamente de Lisboa ao Porto para
acompanhar o evento, cuja concentração ocorrera no Campo 24 de Agosto, local
onde Gisberta morreu, e partiria dali rumo à Praça D. João I. Fui à 1ª Marcha numa
perspectiva jornalística, sim... para fazer a cobertura do evento, cuja reportagem,
bem como outros textos relacionados, se encontram registados na edição nº 26 da
revista Korpus, publicada em Outubro desse ano)... Mas fui também pela Gisberta...
de quem fui amigo durante os anos em que, naquela época (1994-1998), vivi no
Porto, até me mudar para Lisboa... Conheci-a nos anos 90, no auge do seu
esplendor e beleza, muito antes de a sua vida ter dado aquela infeliz reviravolta
que a levaria à pobreza extrema e à tragédia de má memória que se consumaria no
último dos seus dias.
Com o fim do meu
projecto, a revista Korpus, que fundei em 1996 e dirigi e editei ininterruptamente
durante 12 anos, até 2008, fui-me afastando, gradualmente, dos eventos e do
movimento LGBT, embora mantivesse, desde sempre, alguma proximidade, ainda que
discreta, com a cena LGBT e alguns membros fundadores do movimento LGBT
português... velhos e bons amigos, companheiros de uma luta tão nobre como a
nossa, de quem continuo amigo... ou com quem mantenho algum contacto, ainda que
esporádico. (A propósito, aproveito para referir que a revista Korpus se
encontra, presentemente, em processo de recuperação, sob a alta
responsabilidade e patrocínio de duas entidades oficiais (Hemeroteca de Lisboa
e Rede Nacional de Bibliotecas), e todas as edições publicadas serão
disponibilizadas ao grande público, para memória futura, até ao final deste
ano; mas falarei sobre isso em momento mais oportuno... ou seja, quando me for
permitido fazê-lo). E após cerca de 10 anos de afastamento, regressei este
ano...
Sim, estive
presente na 1ª Marcha do Porto, em 2006... e voltei este ano, 2019... à 14ª
Marcha. Desta vez, numa perspectiva pessoal. Fui, acima de tudo, pelo
António... um dos membros fundadores que mais e sempre se bateu ao longo dos tempos
pela Marcha do Porto... que nos deixaria há cerca de um ano, em Agosto de 2018,
e que foi, muito justa e merecidamente, homenageado neste evento... ou a quem
se dedicou este evento. Estive sempre presente na Marcha, do início até ao fim,
lado a lado com a sua mãe, Maria Helena Alves, segurando a faixa do António,
cujos dizeres se podem ler na fotografias que ilustram este post. E obviamente
que notei diferenças... imensas. Diferenças positivas. Muitas. Muitíssimas! O
que foi muito bom.
A única pessoa que eu
havia contactado, ou com quem combinara algo, fora a Maria Helena Alves. Porque
eu queria – queria muito! – adquirir o novo livro (póstumo) do António, cujo
lançamento ocorrera na passada sexta-feira, no Porto. Na impossibilidade de eu ter
ido ao lançamento, por incompatibilidade de horários, a Maria Helena prometeu
levar um exemplar no dia seguinte e entregar-mo durante a Marcha. Não levou... Não
porque não quisesse, mas porque não o pôde levar. Razão? Todos os exemplares haviam
sido vendidos na noite anterior, durante o lançamento. Mas prometeu conseguir-me
um livro nos dias seguintes. Fiquei triste, mas ao mesmo tempo contente... pelo
êxito. Porque o António merece! No entanto, já no final da Marcha, eu acabaria
por conseguir o meu tão desejado exemplar. Porque... AS ESTRELAS MEXEM-SE. (Falarei
sobre o livro num outro post.)
Durante a Marcha
fui reencontrando algumas (infelizmente, poucas) pessoas do «antigamente». Mas
gostei de ver. Gostei de participar, pela primeira vez, como manifestante.
Gostei de tudo o que vi. Gostei de estar presente... Sim, gostei muito.
Não sei se
«marcharam» 5000 ou 7000 pessoas... números que já vi apontados em várias notícias.
Mas sei que apareceu muita gente... um imenso mar de gente que invadia algumas
das ruas mais emblemáticas da cidade do Porto com as suas palavras de ordem,
com as suas bandeiras, com as suas músicas, com as suas faixas e cartazes, com
todo o brilho que as cores do arco-íris proporcionaram. Já nós tínhamos
atravessado o viaduto, ali bem próximo da Praça da República, e percorrido toda
a Rua Gonçalo Cristóvão, até ao fim... já nós descíamos a Rua de Santa Catarina...
segurando a faixa do António, imediatamente a seguir à principal (a faixa
oficial da 14ª Marcha)... quando alguém, creio que da organização, se aproxima
de nós (de mim, da Maria Helena Alves e do João Paulo, responsável pelo PortugalGay.pt
e um dos organizadores/dinamizadores da Marcha) e diz-nos algo assim: «Ainda há
muita gente a sair da Praça da República!» Fiquei um tanto surpreendido. Pela
positiva, claro. Bem... era, de facto, muita gente! É bem provável que se tenham
manifestado 5000, 7000 ou talvez mais pessoas... E como de facto se viu, já na
Cordoaria, onde terminaria a Marcha, a imensa multidão que ali se concentrou...
Foi mesmo muito
bom. Muito bom mesmo!
Os meus parabéns a
toda a organização e demais colaboradores e dinamizadores... bem como a todos
os manifestantes que participaram nesta grandiosa Marcha do Orgulho LGBT+. E
não posso terminar estas palavras sem deixar um forte aplauso ao (nosso)
querido e saudoso António. Porque... AS ESTRELAS MEXEM-SE.
Viva a Marcha!...
Viva o António!
Fotos recolhidas das páginas no Facebook de Bruno Martins,
Helena G. Ferreira, António Soares e PortugalGay.pt
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