– Abençoe-me,
padre, que eu pequei.
– Há quanto
tempo não te confessas, minha filha?
– Não sei... já
lá vai algum tempo desde a última vez.
– Diz-me, o que
te traz por cá?
Com o coração
apertado, Maria Benedita lá foi desabafando o motivo para tamanho desalento:
– Estou cansada...
estou mesmo muito cansada. Acho que não sou capaz de renovar os votos, no ano
que vem, sabe?
– O matrimónio
requer trabalho, esforço e dedicação contínua. Conseguiste até agora e, após
tantos anos, queres deitar tudo a perder? Por cansaço?
– É o raio da
consulta. Desculpe! É a consulta... já sei o que o médico vai dizer. Não
suportarei tal humilhação.
Olhando para a
quantidade de fiéis à espera da confissão e, apesar de o assunto carecer uma
urbanidade especial, o padre optou por abreviar a confissão. Mais rápido que um
furacão, arrepiou caminho e recomendou-lhe:
– Reza três
ave-marias a Nossa Senhora, que ela te ilumine e te dê forças. Vais ver que
encontras a solução. Tem fé, minha filha!
Não se sabia se
por defeito ou qualidade, o certo é que o padre Barnabé era assim mesmo:
escravo do relógio, detentor de uma pontualidade cirúrgica. Mais tarde, ficaria
a remoer sobre o assunto e haveria de lhe dar a atenção que merecia mas, por
agora, era imperativo abreviar as confissões; um compromisso na paróquia
vizinha (um funeral) obrigava-o a isso.
Despachada num
abrir e fechar de olhos, Maria Benedita assim fez: recolheu-se a um canto e,
depois da oração, canalizou as suas aflições para a imagem de Nossa Senhora das
Neves. Se outrora a Senhora respondeu, através de sonhos, que destino o casal
romano deveria dar à sua fortuna, podia ser que também a visitasse em sonhos,
indicando-lhe um rumo para a sua vida. De olhos postos na Virgem, foi
desfolhando, mentalmente, a sua desgraça.
Em tempos,
considerara-se um chaparro. Um chaparro frondoso, imune às adversidades
climatéricas e temporais. Fora uma dessas árvores que proliferavam na planície
imensa, sob o calor alentejano. Fora um sobreiro produtivo: dois filhos, o
tesouro mais precioso que acalentava a alma em dias de tempestade. Porém, a
tempestade tinha vindo a ganhar força e terreno, desde há muito tempo. Formara
uma gigantesca bola de neve: uma barreira que a separava do marido – e se havia
como derrotar este adamastor, desconhecia a fórmula para o trespassar, para o
ferir de morte e salvar o seu casamento.
Recordou o
juramento «Na saúde e na doença, até que a morte nos separe...» e abanou a
cabeça negativamente. Fora um ato tresloucado – a jura de amor eterno. Como
manter a palavra se ele tinha outro amor? Um amor poderoso, sedutor, atraente,
sublimemente viciante?
Se ao menos
desistisse da consulta, nem que fosse ao último minuto. Se admitisse a sua
paixão por ela, aquela destruidora de lares! Se ela não deturpasse a realidade!
Se ela não provocasse paranóia e delírios...
Maldita bebida!
Essa parceria
nefasta devorava corações, sugava vidas, sonhos, esperanças, desejos,
vontades... Reduzira um imponente sobreiro a uma mera papoila. Era assim que
Maria Benedita se sentia: uma papoila fustigada pelo vento, perdida e indefesa
no meio de uma seara ardida. O ópio que tinha para oferecer nunca fizera, nem
faria, frente a tal oponente.
Faria sentido
renovar os votos matrimoniais? Desejaria continuar a brincar ao faz de conta? «Faz
de conta que és um alambique, faz de conta que destilas os elementos nocivos,
faz de conta que o cheiro a mosto nos lençóis é um perfume caríssimo e
inebriante, faz de conta que os impropérios que te são dirigidos não passam de
lamúrias do vento, faz de conta que tens em casa uma raridade de valor
incalculável quando, na verdade, não passa duma zurrapa reles!»
Fazer de conta
também cansava. Cansava fingir que era feliz, cansava calar, cansava ser
constantemente magoada, cansava quando as próprias crias sofriam com a obsessão
alcoólica. Cansava não ter dinheiro para comida ou material escolar porque as
tascas e tabernas tinham prioridade, tiveram sempre prioridade.
Sentia-se
extenuada de tanto cansaço. Atingira o limite das suas forças e a sua paciência
extinguira-se. Aquela consulta seria a última gota. Implorou baixinho: «Não vás...
Não queiras saber o resultado dos exames, confia em mim...»
Junto ao Alqueva,
admirava os milhares de pontinhos brancos que sarapintavam o céu. De uma beleza
infinita, a reserva “Dark Sky” sempre fora o seu lugar de eleição para meditar.
Uma estrela cadente riscou o célio enegrecido. Seria um sinal? «Corre e não
olhes para trás!» Seria isso?
Amanhecera mais
cedo. Porque haveria o dia de começar mais cedo? Qual era a pressa? Seria ânsia
do abismo engoli-la de uma vez por todas? A muito custo, camuflou o mal-estar
que estava a sentir; era alvo de uma atenção que não desejava: semblantes
acusadores formavam um pelotão de fuzilamento à espera da ordem para disparar,
pareciam hienas com a dentição em riste. Ignorou o melhor que pôde,
recriminando-se, simultaneamente, pela escolha infeliz dos autocarros da
“Rodoviária do Alentejo”, um táxi ter-lhe-ia poupado uma boa dose de constrangimento.
O percurso de
meia hora, mais coisa menos coisa, permitiu-lhe saborear o seu Alentejo. Quiçá,
pela última vez.
– Chegámos –
avisou Constâncio, arrancando-a da sua despedida secreta, à força.
Inspirou fundo
para ganhar coragem e deu entrada no hospital de Évora, para a malfadada
consulta.
«É agora!»
Foram atendidos
por uma jovem muito simpática, parecia ter sido escolhida a dedo para o cargo.
Discreta e de uma sensibilidade para lá do inimaginável, apontou-lhes a pequena
sala de espera enquanto entrava num dos gabinetes.
– O Sr. Doutor
já vem atendê-los. Aguardem, por favor.
Impaciente,
Constâncio rompia a sala de tanto andar de um lado para o outro. Sem um pingo
de compaixão, apresentava-se visivelmente satisfeito, sádico até. Felizmente,
minutos depois, o médico saiu do gabinete e mandou-os entrar. Indicou-lhes o
caminho, num gesto cortês. Sobre a secretária repousava o envelope com os
exames, os exames que Constâncio reclamava há imensos anos.
Cravou os olhos
no casal perscrutando as suas expressões faciais, deixou escapar um trejeito
com a cabeça, em modo de reprovação, e, após um tortuoso compasso de espera,
perguntou:
– Têm noção do
que estão prestes a descobrir? Querem mesmo avançar com isto?
Ambos acenaram
positivamente.
– Muito bem.
Comprove com os seus próprios olhos, Sr. Constâncio. A sua paternidade
confirma-se. Parabéns!
O veredito foi
como um soco na boca do estômago, ele estava convicto de que Pedro e Diana não
eram seus filhos, vira-os sempre como bastardos. Tratara-os abaixo de cães,
dava muito jeito na hora de sacudir as responsabilidades em detrimento da
bebida. Aturdido com a revelação, insistiu numa explicação detalhada e trocada
por miúdos. A esposa – mais vermelha que um tomate maduro – pediu licença para
se ausentar, uma vez que já cumprira a sua parte, não fazia mais falta ali.
Tinha mesmo de sair mais cedo para marcar uma outra consulta na dermatologista
e fazer umas compritas na cidade. Combinou apenas a hora e o local de paragem
do autocarro para não se desencontrarem. Imbuída por um sentimento de revolta e
algum amor-próprio – o que restou – telefonou aos filhos a confirmar o plano.
Sujeitar-se à
confirmação de paternidade foi a última gota. Entrou no primeiro táxi que
encontrou e pediu ao taxista que seguisse o mais rapidamente possível para a
central das camionetas. À sua espera, já se encontravam os filhos com uma
pequena mala de viagem para cada um deles. Preferiam um rumo sem destino a uma
vida de cão, dentro da própria casa. Abandonaram aquilo que devia ter sido um
lar. Para trás, ficou a maior parte dos pertences, coisa de pouco préstimo, e
um diário – o diário de Maria Benedita.
***
Constâncio
calcorrearia a cidade, de café em café, golada atrás de golada. Quando o nível
de bebida superasse a quantidade de sangue, resignar-se-ia a fazer a viagem de
regresso a casa. «Aquela vaca vai ver com quantos paus se faz uma canoa. Vai
ouvir o dobro do que eu ouvi do médico. Aquele saloio... nem mulher deve ter! Se
tivesse, saberia que elas são umas oferecidas. Tudo lhes serve, desde que se
mexa. Grande azémola! Já se acha muito macho por ter um canudo! Mais uma
palavra e era eu que lho enfiava pelas goelas abaixo...»
A ira
avolumar-se-ia a cada copo. A ira e a coragem. «Enfiar-lhe o cano da espingarda
nas fuças ainda vai ser pouco, a badalhoca!»
A planície já se
encontrava envolta num manto crepuscular quando Constâncio, num estado
deplorável, alcançou a soleira da porta.
Um silêncio
sepulcral reinava na casa. Não havia uma única luz acesa. Do jantar, nem sinal.
Apenas uma espécie de livro em cima da mesa. «Vai um dia à cidade e já me vem
com mariquices! O que andas a tramar, ordinária?» Folheou o diário,
atabalhoadamente, para se inteirar do conteúdo. Reparou nas datas: umas de há
uns vinte anos, outras mais recentes e, a última, do dia anterior. Pôs-se a ler
algumas.
***
Reguengos de
Monsaraz, 13 de novembro de 1991
Querido diário:
Não imaginas
como lamento ter de usar estas tuas páginas imaculadas, manchá-las com o crude
do meu desalento. É nas horas mortas, enquanto admiro a quietude estrelar, que
a necessidade de desabafar grita mais alto.
As palavras
tornam-se escassas para exprimir a tristeza que me assola. Hoje, após três
meses de casamento, vi-me obrigada a defender o rosto das mãos do meu marido. O
prato quebrado ainda jaz no chão da cozinha. Dói! Dói a leviandade com que
investiu sobre mim, por uma insignificância. Tudo serve de pretexto para armar
confusão, bem sei que à noite não se pode falar com ele, nem tentar chamá-lo à
razão. É casmurro demais para reconhecer o estado de embriaguez que sempre o
acompanha até casa. Faço-me de rogada para o acompanhar, talvez assim seja mais
comedido com a bebida, mas a resposta é sempre a mesma: «O teu lugar é na
cozinha e não no meio dos homens.» Parece que beber que nem uma esponja é coisa
de macho, confere-lhe a masculinidade imprescindível para ficar bem visto junto
dos comparsas.
Como desejo
ficar de esperanças! Um filho fá-lo-á correr para casa. Poderá emendar-se por
um herdeiro. Quem não quer ser o orgulho do filho? Voltará a ser o homem que eu
escolhi... o homem que eu vi mal os nossos olhares colidiram pela primeira vez.
Eu sei que sim.
***
Reguengos de
Monsaraz, 28 de maio de 1994
Querido diário:
São três da
manhã, estou sozinha com duas crianças de oito meses. Não consigo baixar a
febre dos gémeos e o dinheiro que tinha guardado na lata do café sumiu. Vou
mudando as toalhas, embebidas em água fresca, à espera que o pai se digne a
aparecer. Tanto lhe recomendei! Os bebés precisam de leite e a embalagem do “Cerelac”
está a dar as últimas. Maldito! Se entram em convulsão, como da última vez,
estou perdida!
***
Reguengos de
Monsaraz, 9 de janeiro de 1999
Querido diário:
Dizem que não há
nada melhor do que chegar ao fundo do poço. Como? Este poço não tem fundo!
Sinto-me em queda livre há tanto tempo que já devo ter atravessado o centro da
Terra. A vida insiste numa aprendizagem amarga e rude. Odeio o seu sentido de
humor: mordaz, quase maquiavélico. A vida, incomodada com a minha ingenuidade,
rasgou-me a vista para o mundo. Quando confundi um coma alcoólico com um
desmaio, ela riu-se de mim. Percebi o quão idiota sou. Uma idiota chapada por
ter chamado a ambulância a meio da noite, por ter arrancado os meninos da cama
e seguido para o hospital, em busca de notícias, temendo o pior. Afinal, um
comprimido mágico e estava pronto para outra. A sério?! Pergunto-me: por quanto
tempo mais serei a personagem principal desta comédia ridícula? Ser o bobo da
corte é algo muito desagradável. Como vou explicar tamanho aparato a estes
vizinhos metediços?
Tenho medo da
coisa que se está a formar dentro de mim. A haver uma repetição da cena... nem
que ele morra, acho que não mexo um músculo que seja. É pena, porque eu já fui
melhor pessoa do que isto.
***
Reguengos de
Monsaraz, 13 de dezembro de 2001
Querido diário:
Hoje devia ter
ido à festinha de Natal dos miúdos. Prometi-lhes! Como era à noite,
implorei-lhe que, pelo menos uma vez, se abstivesse de beber. De nada serviu.
Na hora de sair, podre de bêbado, sem forças para se manter em pé, proibiu-me
de pôr os pés fora da porta. Apelei ao bom senso, sem querer entrar em
conflitos, mantendo a minha determinação. Não sei onde foi buscar equilíbrio...
O certo é que deitou as mãos à caçadeira, carregou-a e fez pontaria à minha
cabeça. Estive tão perto de atirar a toalha ao chão! Morrer naquele momento era
sinónimo de paraíso. Preferia a morte antecipada a uma repetição dela em vida –
porque eu morro todos os dias e todos os dias sou obrigada a renascer. Depois,
pensei nas crianças. Que cenário iriam encontrar após a festa? Quem cuidaria
delas... isto, se não fossem as próximas a levar chumbo?
Engoli a minha
determinação com repúdio e vesti, mais uma vez, o fato de submissa: «Seja feita
a vossa vontade, meu lorde.»
Como desejei que
essa paixão lhe corroesse o fígado e o transformasse em papas! Que o
dilacerasse tanto como a mim!
Vês no que me
estou a tornar?
***
Reguengos de
Monsaraz, 9 de junho de 2008
Querido diário:
Pesa-me na alma
a praga que um dia roguei. Repeti-a tantas vezes, no meu subconsciente, que
acabou por se concretizar. A cor esverdeada do Constâncio não engana, a
falência do fígado está iminente. Só um transplante o pode safar. É um
turbilhão de sentimentos: por um lado, o dever de estar ao seu lado; por outro
lado, a concretizar-se o pior, é o livrar de um peso morto. Talvez Deus me
castigue por isto, mas só me vêm à cabeça más recordações: «Estás à espera de
outro?», «Esses cães que façam alguma coisa que justifique a comida que
engolem!», «Um dia ainda vou descobrir o rafeiro que tanto proteges!»
Sabes o que é um
vaso Ming? Imagina que eu fui um desses artefactos... estilhaçada inúmeras
vezes. Como se recupera uma peça desfeita? Nem em sonhos me permitiria traí-lo,
foi o alfa e o ómega. Os filhos foram e serão a minha sombra constante,
sobretudo em dias chuvosos. Como se atreve a enlamear o meu nome, só porque
estendo roupa nas traseiras da casa e deixo a porta encostada? Julguei que o
silêncio era a melhor resposta, mas sinto algo grandioso a formar-se dentro de
mim, algo tão potente e destrutivo como uma arma nuclear. Tenho medo... medo de
me tornar um deserto gelado... a Sibéria já esteve mais longe.
***
Reguengos de
Monsaraz, 3 de fevereiro de 2009
Querido diário:
O transplante
foi um sucesso! A vida ofereceu-nos uma segunda oportunidade. Trabalhei como
uma louca para custear as visitas diárias ao hospital, para que nada lhe
faltasse: comidinha caseira, pijamas, jornais... De tanto cuidar dele, esqueci-me
de mim. Perdi onze quilos. Onze quilos que ofereço de bom grado, a bem da nossa
felicidade. Creio que atingi o fundo do poço, agora é só ganhar impulso.
Sinto-me feliz! Um milagre destes acontece por algum motivo... Fui presenteada
com um milagre, dá para acreditar? Obrigada, meu Deus!
***
Reguengos de
Monsaraz, 29 de maio de 2010
Querido diário:
Um ano correu
após a tormenta... Foi ingenuidade minha acreditar na bonança? Alguém morreu
para que ele tivesse a hipótese de ter uma vida nova. Médicos e enfermeiros
armaram-se em deuses para que regressasse do mundo dos mortos, e tudo isto para
quê? Para voltar a enfrascar-se até às orelhas, para se sentir imortal. Mais
arrogante do que nunca. Esqueceu-se de uma grande virtude: a gratidão! Isto
revolta-me até às entranhas.
Algures por aí,
há uma mãe que chora, uma noiva, um irmão, um amigo, um patrão... Há uma série
de pessoas que sofrem com a ausência do seu ente querido. Alguém que, apesar de
morto, continua a viver através do meu Constâncio, partiu retalhado por causa
de uma amostra de gente. Esse alguém não teve quem o consertasse, não teve uma
segunda oportunidade, ao menos que o seu órgão tivesse um destino digno. Um
gesto de uma grandeza sobre-humana desta natureza merecia uma divindade e não
um vasilhame de cerveja e vinho de quinta categoria.
Pessoas assim –
ingratas – dão-me nojo. Esgotei a paciência para aquilo a que chamam de doença,
dependência, vício ou moléstia. Cobardia, fraqueza, falta de caráter, coisa de
gente pobre de espírito... isso, sim!... é a mais pura das verdades.
Deus, não
permitas que os familiares do dador venham a conhecer este monte de esterco.
Que continuem a sonhar que foi por uma boa causa.
***
Constâncio ia
lendo, avançava várias páginas de uma só vez, sedento de um feito altruísta que
tivesse ficado gravado naquelas folhas de papel. Nada. Nem um parágrafo, uns
parêntesis, uma sílaba, uma vírgula. Percebeu, finalmente, o ser vazio em que
se tornara. Adivinhava o final da história; ainda assim, tinha de ver para
crer. A última página, um derradeiro sopro de vida, era dirigida a si. Já não
era ao diário confidente, aquele objeto que, durante anos e anos, cumprira uma
função que não era sua. Ele é que devia ter ouvido estes desabafos. Devia ter
compreendido, ter sido sensível ao sofrimento que causava à sua família. Era
ele! Mas parecia ser tarde demais.
***
Reguengos de
Monsaraz, 7 de maio de 2015
Meu amor:
Percebes agora
porque estás sozinho? Travei um combate desigual e perdi. Saí derrotada deste
braço de ferro, a bebida levou a melhor. Mas dei luta, não dei? Fica por aqui a
nossa história. Cabe-te a ti inventar uma nova, se quiseres.
Os meus filhos –
aqueles que só foram nossos por breves minutos, os minutos obrigatórios para a
sua conceção – sabem onde te encontrar, se tiverem vontade.
Duvidares de mim
foi a última gota. Saboreia-a até ao fim dos teus dias.
***
O néctar dos
deuses metamorfoseara-se na maldição dos mortais. E porque não seria maldição
se não fosse para dar continuidade, fechou o diário e pensou que amanhã seria
um bom dia para deixar de beber.
Amanhã...
NOTA BIOGRÁFICA DA AUTORA
Suzete Fraga
nasceu a 29 de Janeiro de 1978, em Azurém, Guimarães. Concluiu o nível
secundário em 2012, através das Novas Oportunidades. A Rede Concelhia de
Bibliotecas Escolares da Póvoa de Lanhoso atribuiu-lhe o Prémio do Escalão
Público em Geral (maiores de 16 anos), no Concurso Literário António Celestino,
no ano letivo 2011/ 2012. Exerce a sua profissão no setor têxtil, desde os 17
anos. No entanto, o sonho de enveredar no mundo da Literatura prevalece.
Participa nas obras colectivas «Quando o Amor é Cego» (que resultou do 5º
Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora), «Caprichos & Virtudes» (Papel
D’Arroz Editora), «A Bíblia dos Pecadores» (Pastelaria Studios Editora) e escreveu
um texto para «Boas Festas» (Silkskin Editora), uma antologia de Natal que
ainda se encontra a decorrer, as duas últimas organizadas e coordenadas por
Isidro Sousa. Este texto, «Até à Última Gota», venceu o 6º
Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora.
---
Tive o grato prazer de fazer a revisão deste conto da minha amiga Suzete Fraga, que venceu recentemente o 6º Concurso Literário da Papel D'Arroz Editora, subordinado ao tema «O Poder do Vício». Sinto-me muito feliz por a Suzete ter vencido o concurso. Ela merece! Desde que a conheci, tenho acompanhado o seu percurso e, especialmente, a sua evolução na arte de escrever. Atrevo-me a dizer que ninguém melhor do que eu (excepto pessoas mais próximas dela) conhece tão bem o seu esforço, a sua luta, a sua vontade de crescer - que se traduziu nesta vitória. A sua primeira grande vitória no mundo literário! Uma vitória muito merecida! Ela é um ser humano magnífico... uma mulher simples, humilde, amiga, solidária, sempre atenta ao que se passa ao seu redor. O texto não é meu e nada mais lhe fiz do que pequenas (muito pequenas mesmo) correcções e eliminar-lhe eventuais imperfeições, no entanto, não posso deixar de sentir um certo orgulho por um texto por mim revisado ter vencido um concurso literário. Tive muito prazer em revisá-lo, sim. E terei um prazer redobrado em redigir o prefácio para o livro que a Suzete irá publicar, o prémio do concurso. Publico hoje, neste meu blogue, o texto vencedor do concurso (que também se encontra no blogue da editora), com a devida autorização da Autora. (Isidro Sousa)
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Tive o grato prazer de fazer a revisão deste conto da minha amiga Suzete Fraga, que venceu recentemente o 6º Concurso Literário da Papel D'Arroz Editora, subordinado ao tema «O Poder do Vício». Sinto-me muito feliz por a Suzete ter vencido o concurso. Ela merece! Desde que a conheci, tenho acompanhado o seu percurso e, especialmente, a sua evolução na arte de escrever. Atrevo-me a dizer que ninguém melhor do que eu (excepto pessoas mais próximas dela) conhece tão bem o seu esforço, a sua luta, a sua vontade de crescer - que se traduziu nesta vitória. A sua primeira grande vitória no mundo literário! Uma vitória muito merecida! Ela é um ser humano magnífico... uma mulher simples, humilde, amiga, solidária, sempre atenta ao que se passa ao seu redor. O texto não é meu e nada mais lhe fiz do que pequenas (muito pequenas mesmo) correcções e eliminar-lhe eventuais imperfeições, no entanto, não posso deixar de sentir um certo orgulho por um texto por mim revisado ter vencido um concurso literário. Tive muito prazer em revisá-lo, sim. E terei um prazer redobrado em redigir o prefácio para o livro que a Suzete irá publicar, o prémio do concurso. Publico hoje, neste meu blogue, o texto vencedor do concurso (que também se encontra no blogue da editora), com a devida autorização da Autora. (Isidro Sousa)
Obrigada, meu amigo! Fico comovida com as tuas palavras. Mas não menosprezes o empenho aplicado no meu texto. Passar pelas tuas mãos foi meio caminho andado, rumo à vitória. Espero que continues a dar este tratamento aos meus textos, tranquiliza -me! E a felicidade só será completa quando chegares ao topo, onde já devias estar há muito! Algo que está iminente, eu sei que sim. Abração!
ResponderEliminarMuito bom, deixou falar a alma...
ResponderEliminarObrigada!
EliminarA historia nao é nada de novo ...infelizmente - A forma de a escrever tem todas as qualidades e mais algumas - de narrativa perfeita e cativante - por mim merecia dois premios em vez de um - PARABENS jp
ResponderEliminarMuito obrigada, Jorge!
EliminarMuito bom drama, contando uma história que poderia se tornar banal, afinal, histórias envolvendo o vício em álcool há muitas, tanto na ficção quanto na realidade, mas graças à prosa de alta qualidade da autora, que enfatizou o aspecto humano e sofredor dos personagens, o texto se enriqueceu, e resultou em uma ficção, com muitas verdades, de alta qualidade, realmente mereceu o prêmio.
ResponderEliminarMuito obrigada, Ricardo.
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