20 dezembro, 2015

EDITORAS E EDITORAS


EDITORAS E EDITORAS
(a propósito de uma polémica)

Texto de Carlos Arinto

1.
Nem todos os que editam livros são editores. Alguns, apenas fazedores de livros. Que é igualmente uma actividade legítima e nobre. Dá muito trabalho preparar um livro: capa, paginação, correcção de erros (revisão), etc.
Um editor tem de publicitar, comunicar a obra, investir na sua execução e pagar os custos, incluindo os do autor.
Uma editora é uma empresa, como qualquer outra: faz e vende livros. Tem de ter lucro. Senão extingue-se, fecha, morre.
O que existem hoje são casas que editam para os autores, para venderem aos autores, sem procurarem outros públicos. Tipo aqueles automóveis que não necessitam de carta de condução: os papa-reformas.

2.
Os escritores não são os que escrevem cartas à família, postes e blogs, no facebook, ou memórias de entretenimento. Depende do que se escreve e depende se se ganha dinheiro com isso ou não. Se se tem outra actividade ou se é reformado, não se é um escritor. Apenas alguém que escreve.
Um escritor não escreve nas horas vagas. Escreve sempre, com disciplina. Objectivos e intenção. Vive disso. Compra os alimentos com o rendimento do seu trabalho.
Não há escritores voluntários.

3.
As livrarias eram – antigamente – sítios onde se vendiam livros.
Hoje são armazéns e depósitos, onde se deixam apodrecer os livros. Só se vendem nas livrarias os “livros de sucesso” que é um eufemismo para livros da treta, que os “editores” querem vender. A FNAC é o pior exemplo disto.

4.
Quem escreve tem de saber escrever e escrever bem. O que nem sempre acontece.
Como somos um país de poetas, poetamos. Não pode ser, a poesia tem de ter conteúdo, substância e forma. Tem de ter intenção e Desidério, não podem ser bonitinhos, engraçados, que giro que eu sou. E depois... é preciso ter qualquer coisa para dizer e saber dizê-lo... encontrar o tempo e modo e a construção certa.

5.
As pessoas não lêem. O custo de um livro tem de ser na casa dos 10,00 euros e nunca o dobro. (O problema são as tiragens, como se sabe). As pessoas não lêem, porque não sabem ler. Iliteracia literária. Não foram habituadas, vêem tudo na televisão. Um livro é um luxo, não um lixo. Um livro é uma elite, não pode ser banalizado com maus textos, maus poemas.
Um editor tem de orientar, corrigir, sufragar, colaborar. Um escritor será um deus se for lido. Um nada se for ignorado. Editor e escritor têm de ser dupla com objectivos iguais.

E porque num dia de chuva me apeteceu disciplinar alguma confusão sobre a matéria.


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Texto de Carlos Arinto publicado no dia 17 de Dezembro de 2015, no evento da antologia poética «Vendaval de Emoções», que subscrevo totalmente.

1 comentário:

  1. Cá está uma reflexão muito pertinente. Concordo plenamente consigo. Espero que abane mentalidades... isto, se chegarem a ler. Parabéns, Carlos Arinto.

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