03 setembro, 2015

PRÍNCIPE DE ÉBANO


Juno (no papel) a minha pluma te esboçou
belo atormentado camponês transmontano
com Java essoutro apolo a pena te imortalizou
irresistível perseguido bailarino açoriano

Amigos clandestinos (amantes) em fogo turbulento
quais vendavais intoleráveis sempre ultrapassados
em sagrado leito compartilhado no secreto aposento
amores e desamores (para) sempre reencontrados

Há mais de um decénio aguardava pacientemente
para aos olhos do mundo a vossa ventura desvendar
interminável espera vã se revelaria surpreendente
sem que a vossa odisseia pudesse (ainda) divulgar

Mas eis de repente um inesperado acontecido
sem nada alterar (quase) todo o panorama mudou
um novo Juno nascido ao meu suave ouvido
companhia (física) diária no meu lar se tornou

Um belo Cocker Spanil, qual principezinho de ébano
o pretinho da janela que a todos cusca no miradouro
tempos volvidos perderia o (irrequieto) traquina insano
ganhando um anjo de candura, raio de luz duradouro

Doravante, as personagens jazem olvidadas na gaveta
emaranhadas num limbo (profundamente) adormecido
ansiando pela aurora que anunciará o toque da trombeta
fazendo a narrativa retumbar num amanhecer florido


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Poema seleccionado para «A Lagoa de Óbidos, o Mar e Eu»
Uma antologia poética da MP Edições que será lançada em Outubro

16 comentários:

  1. É uma pena o fiel amigo não saber ler :) mas sente seguramente esse carinho e estima.

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    1. O Juno sente carinho e estima de sobra. Mais mimado do que ele não há...

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  2. Dupla, não, tripla beleza... na minha página (obrigada), poema e o Juno, não sei qual dos dois o mais belo... vai inspirá-lo muito mais, de certo. Esse olhar não mente e ele é mesmo ébano... e um verdadeiro príncipe.

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    1. O Juno é o Juno... um verdadeiro Juninho... autêntico como só ele! E amoroso quanto baste... ;)

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  3. Já comentei, e de facto este "menino" é de uma beleza e ternura inigualável! Um verdadeiro príncipe! Lindo só uma vez!!!

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    1. Uma ternura, Paula Homem? Bote ternura nisso! Ele é um mar de ternura... ;)

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  4. Parabéns pelo poema. O Juno deve mesmo merecer: eles merecem tudo pela entrega incondicional, todos os momentos de cada dia

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    1. O Juno merece tudo! Mesmo quando ele começa a ladrar na janela (o cusco)... eu só lhe bato palminhas (para que se comporte). Mas mesmo até as palminhas (nas minhas mãos) lhe custa dar...

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  5. Como gosto muito de cães, nada digo, porque sou suspeito. O cão é o único amigo que se pode comprar, e nos faz depois feliz toda a vida.

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    1. Eu sei, António. Melhor amigo dos bichinhos do que você, poucos... e sei que o António vai adorar o Juno, um dia que lhe apareça à frente.

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  6. Que lindo. Adoro cães. São uns fofos muito meiguinhos. Uns amigos muito leais.

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  7. Descreves com erudição tal imprescindível figura animal, agregastes filosóficos e pertinentes caracteres da linha tênue exercida na relação entre ser humano e seu bichinho de estimação. Numa poética e inigualável inserção ao que esconde-se na semântica de coerente e atual adágio."O CÃO É, E SIM, PORQUE NÃO SER O MELHOR AMIGO DO HOMEM" atemporal obra prima literária que fizestes tu amigo Isidro Sousa, parabéns, tudo de bom pra vc.

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  8. Meus Parabéns! É um lindo poema, Isidro Sousa tem o talento de um grande escritor!

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  9. Poema bonito, com metáforas de grande beleza e sensibilidade. Quadras bem elaboradas, métrica correcta, rima certa e em alguns casos, rica (aposento/turbulento; pacientemente/surpreendente; acontecido/ouvido; ébano/insano; duradouro/miradouro). É necessária uma cuidada interpretação para entendê-lo. Sendo o cão macho (penso eu), deu-lhe o nome da deusa Juno. Por alguma razão especial?

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